ESTÁ CHEGANDO
logo chega aquela data
sim aquela data
os sinais de sua chegada
estão pelas ruas
nas lojas
as luzes já piscam
o verde e o vermelho se espalham
e espraiam-se pelas ruas e praça
nas portas
(e são tantas)
pedintes pedem
velhos com placas de compra-se ouro
dormem em pé
crianças que não
são minhas
ou suas
estendem mãos
e pedem também sua parte nesse quinhão natalino
vozes estridentes gritam
as ofertas
as campanhas
os “comprem logo seus presentes”
são anunciados nas rádios tv’s e alto-falantes
o corre-corre começou
os filhos pedem
os pais prometem
compram-se roupas novas
doam-se as velhas
trocam-se receitas
começam as brigas e discussões
quem fará o quê?
o que comprar?
para quem comprar?
(me pergunto para quê comprar?)
os velhos barbudos
(me excluo disso!)
já se candidatam a fantasiar-se
barbas brancas são cultivadas
barrigas também
os dias correm como que ladeira abaixo
e os preparativos se atrasam
rôo minhas unhas
coço minha cabeça
lá vem ele...
nas folhinhas abrem-se janelas
(com bombons)
contagem regressiva
ansiedade
lá vem o natal outra vez
parece que foi ontem que briguei com tanta gente
antes, durante e depois da ceia
os natais se sucedem em minha vida como uma catástrofe anunciada e nunca evitada
sou atraído para ele como
o suicida para a morte
num deja-vu louco e sem sentido
alucinado
desvio das lojas
desvio dos velhos gordos e barbudo
antevejo a chegada de minha neurose
trinco os dentes
revejo meus palavrões
cerro os punhos
e todo o aborrecimento dessa data vem à minha garganta
minha boca amarga
meus olhos turvam
meu Deus
(acendendo meu cigarro quase grito)
- como eu detesto o natal!
(nunca mais a primeira pescaria do ano...
Quem ainda está vivo para lembrar isso?)
(e pensar que minha única alegria
com os tradicionais três abacaxis)
Mas para os que ainda cultivam uma fagulha que seja de boa-vontade leiam a participação especial de Maria Aparecida Soares Ferreira no Folhetim Cultural, onde poderão encontrar doçuras nos poemas da Mirse e ainda palavras e pensamentos leves na prosa cotidiana da Bárbara. Aproveitem e não me acusem de ter estragado o Natal de vocês!
Aos amigos Próximos, Chegados, Afastados, Temporariamente Distantes, Geograficamente Longe de mim, àqueles com quem brigo o ano todo, àqueles que suportam esse meu humor: Feliz Natal (sim é ironia) e Boas Entradas!
Nos leremos em 2012!