Seis horas, acordo e me deparo com o chão coalhado de baratas mortas, suas pernas finas tremendo ao vento que entra pela janela.
As cortinas dançam com a mesmo aragem.
Essa cena me faz voltar no tempo e me lembrar de frei Justino, - que Deus o tenha! - num domingo na hora da comunhão de repente quedou-se paralisado, em choque com a hóstia levantada na mão direita, olhos esbulhados olhando em direção à assistência, babando começou a murmurar para o coroinha:
- Tire esse cágado da igreja, tire esse cágado da igreja...
O mais patético era que não havia cágado nenhum na igreja, o pobre homem surtou, enlouqueceu, e foi retirado da igreja á base de muito calmante...
Volto - essas minhas idas ao passado me dão vertigem - ao presente e as baratas continuam ali no chão, mortas de barriga para cima.
Desvio-me delas, senão com nojo, com cautela...
O sol promete mais calor, a continuar esse clima assim logo, os vizinhos me encontrarão morto, duro e suado na cama, e tal e qual essas “Periplaneta americana”- eu as odeio, mas as conheço - em decúbito ventral e como o velho Justino, de olhos esbugalhados.
Nunca mais tive notícias de frei Justino!
Vou à cozinha, reviro o armário, acho o inseticida que usei à noite passada, leio as instruções.
Penso com meus botões:
- Arma de destruição em massa...
Resolvo jogar esse veneno fora. Não quero em minha consciência os fantasmas de meu passado me assombrando a cada inseto morto – e há tantos nessa cidade!
Enquanto jogo o veneno no lixo decido-me:
- Domingo vou à missa!