2012/11/27

DE LICENÇA EM CASA*



Estou em casa, de licença.
Precisei me afastar, reavaliar meus conceitos e curtir uma dor de corno. Preciso mudar de vida, achar meu Norte, me encontrar.
Sempre quis ser detetive particular, quando moleque assistia ao Columbo, muita elucubração e pouca violência...
Sou um intelectual, meu cérebro funciona a mil por hora, aposto que seria capaz e desvendar um crime sem sair da minha mesa de trabalho. Processaria as pistas fumando um cachimbo como o Inspetor Maigret.
Prenderia os bandidos, criminosos, traficantes sem um murro, uma rasteira, de mãos limpas usando só meu velho cérebro.
Mas sei que nunca serei como meus heróis. Não nasci para ser um herói... Outro dia no bar do Alemão, celebrando minha licença com meus amigos, dois sujeitos que discutiam futebol, começaram a falar alto, gritar, quando começaram a brigar um jogou uma garrafa de cerveja em direção ao outro e a dita garrafa arrebentou em minha cabeça. Fui levado para casa semi-inconsiente, passei dois dias com enxaqueca. Nem consigo lembrar a cara dos indivíduos...
Positivamente, ser detetive está fora de meu currículo.
Olho a folhinha, logo terei de voltar ao serviço, à velha mesa, minha cor está desbotando, adeus bronzeado. Só eu mesmo, queimo no serviço e desboto em casa.
Sou um total fracassado.
Procuro o que ler, mas só encontro pilhas de D.O., hoje vejo que fiz mal em me livrar de meus livros de detetives...
Tinha uma gata chamada Agatha, mas o vizinho a levou quando se mudou do bairro.
Para minha desgraça, só mais uma na minha vida, só mais uma, a vizinha da frente colocou cortina na sala dela. Sei, no fundo me minh’alma sei que a culpa é minha. Ela deu a entender que estava a fim, mas a minha fidelidade ao meu amor platônico pôs tudo a perder, outra vez.
Computando, vejo que só perco desde que comecei a anotar os meus ganhos e perdas, só tem X na coluna de perdas...
O meu mal é ser organizado assim, até na desgraça tenho tudo descriminado, analisado, medido, assim não consigo por a culpa em ninguém, fica claro que o culpado de tudo o que me acontece sou eu.
Sobre a mesa da sala, esperando entrar dinheiro para pagar, a conta de uma quantidade absurda de borboletas azuis que comprei. Serei lembrado no futuro (a quem quero enganar?) pelas minhas idiotices...
O telefone está tocando desde que acordei.
Não o atenderei que liguem pro meu celular. Não tenho celular, hahahahahahahahaha.
Deus, estou ficando louco, me assustei com minha própria voz...
Quinze dias, quinze dias de licença-prêmio! Não aguentarei isso!
Preciso fazer alguma coisa, beber está descartado, ainda sou motivo de risos no bar, o “grande detetive abatido”...
Sou uma piada, só eu não rio dela, será autocritica, ou serei sem graça mesmo? Bosta de detetive eu seria...
Certo, fiz bem em me livrar daqueles livros! Eles estavam a envenenar a minha cabeça...
Mais tarde lerei um Diário Oficial para passar o tempo.
Seguro-me para não telefonar para a repartição.
Não ligarei de jeito nenhum!
Ligarei daqui a pouco, logo será a hora do cafezinho lá.
Não ligarei, não ligarei, não ligarei, não me entregarei a essa tentação. Sou senhor de meu destino, nenhum desejo há de me fazer sucumbir.
Pronto, estou decido, ligarei quando eu quiser, não agora, mas quando eu quiser, quem sabe daqui a uns cinco minutos?
O telefone continua tocando...
Não deveria ter jogado fora o meu cachimbo...
Preciso tomar uma decisão, logo, já, rápido, urgente, imediata, preciso dar um passo á frente, preciso sair desse marasmo.
A vizinha agora fechou a janela...
Minhas alegrias estão se reduzindo a olhos vistos, olhos que nada veem através da janela.
Quando o telefone parar de tocar, ligo pro serviço e peço prá voltar.









*Para entender, click aqui



2012/11/05

COMO ALGUNS ME VÊEM

(e sem controvérsias...)





O” imbecil residente
O” cretino de plantão
O” inimigo atrás da porta