Sobrinha
querida, perdemos a chance de nos ver no último aniversário de “seu sobrinho”,
aquele que é filho - por hora unigênito e que não venha a se tornar “o mais
velho”, oremos! - daquela sua irmã primogênita... (como estamos ficando velhos,
e nossa árvore genealógica, torna-se cada vez mais um cipó genealógico!)
Por hábito,
que só me causa problemas, chegamos à hora aprazada. Qual não foi o meu espanto
(ainda não entendo porque me espanto com isso! Será a senilidade
manifestando-se? Confira para mim mais tarde.) erámos os primeiros. Primeiros
adultos permita-me frisar, primeiros adultos! Pois por lá já estava “seu sobrinho” e mais um dois fedelhos
tão mal-educados quanto ele. Havia um que estava imbuído da firme pretensão
derrubar os portões da casa com seu (de “seu
sobrinho”) skate. Rosnei para ele, mas parece que o pequeno animal não
percebeu a ameaça e tentou passar com o dito skate sobe meu pé direito. Chamei
a atenção de sua (minha irmãzinha) mãe para isso, mas ela impotente, levantou
os ombros, fez beicinho (charme infantil inútil nessa idade) olhou para cima e
perguntou o poderia fazer.
Respondi, mas
ela me explicou que isso daria uma cadeia brava.
Inconformado,
acendi um cigarro e fui em direção ao portão que o pequeno vândalo tentava com
todas as suas forças por abaixo. Segurei a vontade de queimar-lhe um olho.
Aposto que
você se pergunta se havia algo de positivo na festinha.
Sim, havia.
Uma mesa de
doces e salgados que estava uma maravilha. (viu?, sei elogiar)
Distingui lá,
para minha eterna felicidade umas empadinhas (sou humano e tenho lá minhas
fraquezas). Não pude me furtar a minha velha obsessão, e contei uma velha
piada:
- * “Quando for me servir delas será um ato de
canibalismo!”
Não causou-me
espécie não ter sido entendido. Ainda bem que, para dar maior dramaticidade à
piada, não mandei tirarem as crianças de perto.
Mas estou
divagando e ainda não lhe respondi a pergunta primordial. Indagava você minha
sobrinha número dois - por ordem de nascimento, só isso, não se ofenda – porque
fui embora tão cedo, haja vista que parecia que eu estava me divertindo muito no natalício de “seu sobrinho”.
Não obstante
as crianças – e não declinarei uma palavra sequer sobre o gosto musical da mulher
de seu pai, minha prezada irmã e sua amantíssima mãe! (Hemodiálise me livraria
desses genes que carrego? Pesquise para mim mais tarde) - encosta-se a mim
enquanto fumava (sim essa cigarrilha longa que fumo às vezes me causa certos
dissabores) sua Tia Célia.
Houvesse aqui
uma trilha sonora, seria o momento do:
- **Tchantchanraram!
Ela achegou-se a mim, como um tsunami, sem
sutileza, derrubando, destruindo tudo à sua frente, mas vamos ao resumo da
ópera:
1.
Primeiro
reclamou que a minha mãe, sua adorada avó, enviou-lhe bolinhos. Bolinhos esses
que deveriam de bacalhau, mas de bacalhau não era, e sim presunto e queijo. Que
eu acho o ideal para uma pessoa de tão
fino paladar... E em vez dessa
infeliz ficar calada, ligou para minha mãe (sua adorada avó, lembre-se
disso, pois um dia ela pode vir a faltar...) e pôs-se a falar mais que o normal
dela (dela sua tia Célia);
2.
Sua
adorada avó (você é feliz que ainda tem uma) por sua (dela) vez reclamou com o
seu tio (meu irmão Mandinho lembra-se ainda dele? Sei que a há muito vocês não
se veem...)
3.
Ele
(o seu tio Mandinho) chega em casa e quase (uma pena esse quase, uma pena) dá na cara dela (sua querida tia Célia).
4.
Ela
(a dita tia) quase ligou para a mãe de seu tio (sua avó)
5. Depois
disso minha mãe, (sogra da supracitada Célia) para limpar a barra (Santa Inocência.
Precisamos acender velas e queimar incenso a essa entidade!) deu de presente à
mãe da Suelizinha (sua prima, filha de seu tio Mandinho, imã daquele outro lá)
um micro-ondas. - Prá quê eu quero um micro-ondas? Minha vontade foi de responder a ela: - “Para você enfiar a cabeça dentro e...”
Ainda bem que eu fumo ainda bem que eu fumo...
6.
Ainda
por cima essa filhadaputadocaralho (veja, perdi a linha, minha esmerada
educação, eu que poderia ter me tornado um diplomata, perdendo as estribeiras
dessa forma!) foi encher o meu saco, dizendo na frente da sua outra tia
(Rutinha) que ela (Célia) nunca: (a)
quis, (b) pediu, (c) sonhou ou (d) sequer desejou um micro-ondas. Pobre de meu irmão caçula... (acho que ele
ainda acaba como primeira página de jornal um dia).
7.
E,
não obstante, ainda veio fazer fofoca, desonrando o nome de mamãe dizendo que a
velha agora deu para fumar escondido.
Nesse momento, antes que eu traumatizasse
as crianças (embora cada uma delas merecessem chicotadas e mais chicotadas e
mais uns tantos anos numa masmorra a pão e água) cometendo algum ato
tresloucado que levasse a mim e não o Mandinho à primeira página de jornal resolvi
comer (às escondidas, não que eu tente me enganar, nunca, mas tento enganar a
diabetes) um olho de sogra e fui-me embora.
Uma vez em casa, pleno sábado à noite, pedi
uma pizza e mais um fim de semana jogado fora. Sua tia (mulher daquele seu
outro tio - o caçula, o caçula! - não esse tio bom & legal você tem e tanto
te mima desde a mais tenra idade, “ah os verdes anos que não voltam mais...”)
acaba com qualquer clima ou reunião de família. Isso me faz sempre recordar porque
nunca fui ao casamento deles.
Cheguei em casa com vontade de rasgar as
fotos do nosso álbum de família que minha mãezinha (sua doce avó de cabelinhos tão branquinhos...) que amo com extremoso amor filial me deixou
de herança antecipada.
*Uma empada
comendo outra empada, entenderam?
**
onomatopeia não é o meu forte.