2019/06/27

DE VOLTA PRA CASA


(mini história)


...então estávamos a “trocentos” metros de altura sobre o Oceano Atlântico saindo do aeroporto de Heathrow, em Londres, quando sobrevieram as turbulências.
Gritos de “aimeudeusdocéu”, juras e promessas de uma vida melhor e mais honesta, choros, gritos e desmaios.
Pareceu-nos que o incidente há via durado horas, dias, meses, anos, pareceu-nos o fim de tudo, e enquanto todos a bordo lamentavam a vida prestes a ser acabar eu só me preocupava coma bolsa, soba minha poltrona, cheia de CD’s e livros que nunca ouviria/leria... Não pedia a Deus para não morrer, só pedia a Ele, e bem discretamente, que me concedesse a graça de ter um pouco mais de vida para desfrutar deles. Não era pedir muito, não Lhe prometi nada, e nada mudaria em minha vida para Lhe agradar.
Nenhuma barganha, afinal.
Logo o voo endireitou-se, voltamos a ganhar altura, deixamos as Canárias para trás e seguimos o caminho de casa.
Tudo poderia ser bem resolvido, não fosse uma criança que continuava a chorar. Continuava a chorar desde que decolamos, continuava a chorar desde a turbulência, continuava chorar desde que jantamos, continuava a chorar durante a noite em que deveríamos dormir, continuou chorando o voo inteiro.
(11:45hs de voo...)
Estive prestes a fazer um trato com Ele, que derrubasse de vez o avião desde que aquela criança parasse de chorar...
A bendita criança chorava sem parar, já não conseguia distinguir quem estava nervoso por causa dela de quem estava nervoso com a Aduana...
Enfim chegamos a São Paulo, estava louco para descer, desejando nunca mais ouvir tanto berreiro para o resto da minha vida. A enxaqueca, fruto da noite mal dormida, mastigava minha cabeça, a brutal mudança de temperatura, lá inverno, aqui inferno, digo, verão. Pensamentos de morte cruzavam minha cabeça.
Tudo que eu queria era chegar em casa, me meter debaixo do chuveiro e dormir, dormir sem choro de criança.
As malas? Ficariam para calendas!
No dia que resolvemos desfaze-las dei pela falta da bolsa com os CD’s e livros.
Deus cruel!
Deu-me o tempo e tirou-me o prazer de desfrutá-lo!
Antes...