2011/12/13

AQUELES OLHOS AZUIS


- Oi! Você é nova por aqui?

- Acabei de chegar..., aliás, onde “é aqui”?

- Não se preocupe, no começo ficamos assim mesmo, desorientadas, perdidas, tentando entender o que aconteceu.

- Não consigo entender nada, afinal onde estou?

- É melhor darmos uma volta antes de começar a te explicar “os ondes, comos e porquês”. Eu mesma já perdi a conta de quanto tempo estou aqui, acho que fui uma das primeiras a chegar – coça a cabeça - faz tanto tempo me Deus...

- Onde estou? – Assustada, começa a chorar.

- Calma, calma. Você ainda está em choque, vamos dar uma volta, conhecer outras mulheres e quando estiver calma, todas nós te explicaremos o que houve. Começam a andar.

- Mas aqui é tudo igual. Não tem paisagem, não tem cor, flores, perfumes, nada, nada, nada. Começa a desesperar-se.

- Eu morri! Oh meu Deus! Eu morri é isso não é? Estou morta, morta, morta...! Por isso esse lugar é assim. Estou no limbo, no “grande nada” por toda a eternidade esperando pela....- antes de terminar é interrompida.

- Não! Não é nada disso que você está pensando. Veja – diz apontando para frente –, vamos até ali, vou te apresentar a Luciana.

Caminham, e como lá não há referências espaciais, não sabemos se andaram muito ou pouco.

- Luciana, essa aqui é a nossa nova amiga, acabou de chegar.

Luciana dá um longo suspiro, olha para a recém-chegada com um olhar triste, abraça-a, passa a mão pelos seus cabelos.

- Como você é jovem, qual é a sua idade?

- Dezenove...

Luciana, demonstrado grande apreensão, olha para a outra mulher e comenta.

- Elas estão chegando aqui cada vez mais jovens...

- Pobrezinhas... Ela pensa que morreu, que está no purgatório...

- Criança... – diz Luciana – criança, como isso pôde acontecer...? Não, não responda, essa pergunta é retórica...

- Você poderia explicar em poucas palavras o que lhe aconteceu para que ela pare de pensar que está morta e no purgatório? Já fiquei nessa função por muito tempo e não tenho mais paciência para isso. – Diz a primeira.

- Venha minha criança, vamos caminhar mais um pouco e por favor, não precisa nos dizer que andar aqui não dá em lugar nenhum, há muito tempo que sabemos disso...

As duas mulheres riem dessa grosseira constatação.

- Qual a sua última lembrança? Pense bem antes de responder. Qual a sua última lembrança?

- Estava andando num shopping com minhas amigas, quando... – interrompida pelas duas.

- Quando você viu um homem lindo, de não menos lindos olhos azuis. – falam juntas as duas mulheres.

- Sim! - responde a menina. Nunca vi um homem mais lindo em toda a minha vida e, aqueles olhos azuis...- angustiada.

- Me deu uma vontade de...

- Mergulhar dentro deles, não é? – perguntam as duas juntas.

- Sim, isso mesmo. Como vocês descobriram? – Pergunta espantada.

Triste, as duas, outra vez, falam juntas:

- É onde você está agora!



Um comentário:

Unknown disse...

Nossa Roberto!

Lindo! Arrepiante! Misterioso!

FANTÁSTICO!

Beijos

Mirze