OUTRO PEQUENO
DRAMA-RELÂMPAGO
Luz sobre um homem que fala.
Não se vê mais ninguém, ouve-se somente a sua voz.
- Nada,
nada a declarar! – só isso tenho a dizer a cada um de vocês. Não me sinto com
obrigação de falar nem uma única palavra sequer! Sim, dei o tiro, mas poderia
ter sido uma facada, uma paulada, uma pedrada, uma garrafada como nos filmes de
ação. Mas resolvi que deveria dar um fim naquela situação um simples e rápido
tiro. - “Pum! Fração de segundo depois o corpo no chão. A mancha vermelha no assoalho.
Minha arma ainda fumegante também ali caída, e no piso deixei as marcas de meus
sapatos que seguiram vermelhos pela sala, para a saída do apartamento. Não
pensei em correr, em fugir, em me esconder. Era patente o meu desejo, a minha
ânsia, só não viu quem não quis, quem não quis se envolver, tomar partido,
meter a colher. Aqui estou dando meu
depoimento. Perguntem e responderei, sequer alegarei ser réu-primário, um
cigarro nesse momento me basta. Não, não sinto qualquer tipo de arrependimento,
nem culpa, nem frio, nem nada, somente a vontade de fumar um cigarro. Cumpra-se
a Lei, sigamos a Ordem, façam a Justiça. Eu já fiz a minha. Estou em paz. E
vocês? Poupem-se de me perguntarem por que fiz o que fiz, não sou louco, logo
motivos tive, e ouso dizer, tive-os e muitos! Não os enumerarei, não me
justificarei, cumpram o rito e condenem-me logo. Não quero ir ao velório, nem
ao funeral, por mim que joguem o corpo aos abutres ou deem de pasto às chamas. Minhas
última palavras?
- Um
cigarro, por favor.
Luz apaga
lentamente
Silêncio.
Cai o pano
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