2017/08/03

TENDÊNCIAS...




Prezado, bom dia.

Responda-me, urgentemente (atente à quantidade de selos que lhe envio para pronta resposta), para onde esse nosso montinho de barro e água salgada está indo?

Ontem ao andar sem rumo pelas ruas fui acometido por uma vontade imperativa de tomar um café. Sabe o velho amigo que depois (ok, bemmmm depois mesmo) do absinto, o café é a minha segunda fraqueza.

Pois me pus a procurar uma cafeteria para saciar tão premente necessidade quando, de chofre, surgiu à minha frente uma velha construção de madeira, na verdade uma serraria, das antigas. Lá, à mostra, exposta ao sol uma placa com os seguintes dizeres: “CAFETERIA”!

Peço desculpas se o levei, sem querer é claro, a uma promessa de clímax! Entrei, atravessei o umbral daquele que, parecia-me, prometer uma revelação sobre a arte de tomar café.

O chão era coberto de serragem, o espaço entre os caibros que formavam a armação do telhado, sem forro, era preenchido por anos e anos de teias de aranhas, brrrrr, que por sua vez estavam com outras tantas eras de pó de serragem...

Imagine meu mal estar.

O interior era decorado por máquinas, antigas todas. Serras, plainas e muitas mesas feitas com restos de madeiras, os garçons vestiam-se com velhos aventais dos empregados da velha casa, e, dado curioso, todos eles tinham uma coisa em comum: Em cada um faltava ou um dedo ou faltava um pedaço de um dedo...

Encostei-me na primeira mesa que vi.

Ela era manca!

Não havia cadeiras.

Aguardei que me atendessem.

Esquecia-me de descrever a iluminação da cafeteria. A luz que vinha era de pequenas telhas de vidro no teto. Luz parca era “filtrada” pela poeira e teias de aranha. Agradeci ao Criador que lá não houvesse pombos. Como sabe sou grato por qualquer coisa, sempre. Após tirar do bolso de meu paletó um exemplar do Diário Oficial da União para calçar a perna da mesa, um garçom por fim apareceu.

Faltava-lhe a metade do dedo indicador!

Velho Barista, aquilo que me foi servido era qualquer coisa, menos o “divino líquido”. Naquele momento agradeci (veja, sempre agradecendo, sempre) o chão coberto de serragem, e de pronto cuspi aquele veneno marrom!

Amigo Velho esse negócio de tendências já está enveredando pela pantanosa senda do ridículo.

Imagine que tive que pagar pela beberagem e por trezentos e cinquenta gramas de serragem que “estraguei” com a minha cuspida! Sai de lá furibundo e ao chegar à rua - fiquei ofuscado por uns segundos, o sol lá fora estava fortíssimo - um pombo...

Prezado, só o absinto me remite, só com ele saio desse mundo e adentro a os outros universos, outras dimensões.

São essas frustrações me levaram a tornar-me um caçador!

P.S. Comprei uma espingarda de chumbinho. Prevejo uma carnificina de columbinos, um genocídio dessas pragas.

P.S². Envio-lhe umas penas na próxima missiva.


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