Caríssimo,
afasto-me.
Tomei
enfim a definitiva e final decisão. Carrego minhas malas, baús, embornais e
duas ou três sacolinhas com pão de queijo e mandioca. Vou-me afinal. Sopesei
muito, pesei, medi bem e às favas com as consequências. Cansei-me, enfadei-me,
enjoei mesmo de tudo nessa vila e arredores.
Sou
um homem velho, sou caçador de feras e outras maravilhas. Não sou homem de
arrumar encrenca, brigas, desaforos e desafetos!
Ah!
Bom amigo tenho passado por poucas e boas ultimamente. Essa velha pensão cada dia
mais mal assombrada/frequentada. Meus nervos já não são mais os mesmos, eu já
não sou mais o mesmo, que o digam os meus espelhos... Mal penteio os cabelos,
já não faço mais a barba, branca, que já me chega ao peito...
Sai
da pensão de madrugada, feito um ladrão, aliás, como costumo sair de todos os
lugares onde já morei. Saio como fugido. Mas sossegue, a senhoria há de
encontrar meu aluguel num envelopinho sob a sua porta pela manhã ao despertar.
Sou estranho, mas ainda continuo honesto como meu velho pai. Lembrei-me dele
dia desses, depois lhe conto.
Ao
sair da velha pensão recomendei que os anjos continuassem por lá por mais uns
dias e que me mantenham informado de tudo que por lá se passe e dos que passem por lá também.
Ando
impressionável. Ouço vozes, vejo vultos,
imagino complôs, intuo traições, nada de bom passa por esse velho e calvo
crânio.
Por
isso se você ficar muito tempo sem notícias minhas tente não se preocupar. Vou
afastar-me de tudo e de todos. Descobri um jeito de escapar dessa realidade de
três dimensões...
(abro
esse parêntese para que você velho amigo possa recuperar o folego).
Espero
que junto com o folego tenha ao seu lado sua velha xícara de café, lembrança da
sempre saudosa Dona Maria Amália.
Pois
é, depois de muito estudo, muita pesquisa, queimar muita pestana em velhas
bibliotecas e antigos alfarrábios, descobri como sair disso aqui (estenda bem
seus braços e olhe para o horizonte, respire bem fundo, e entenda o que
significa o “tudo isso aqui!”).
Percebi,
enfim, que vivi num mundo de ilusões, fantasias, pesadelos, quimeras e
miragens... – imagino-o balançando a cabeça e pensando que o absinto acabou
comigo – mas engana-se, só a sobriedade me enlouquece.
Despeço-me
aqui. Logo hei de dar-lhe noticias, quer por escrito, quer em seus sonhos – mas
tome cuidado com os súcubos, muito cuidado!!
Até
mais Velho Homem.
P.S.
Duvido que do “outro lado” eu possa enviar-lhe alguma lembrança ou peças para
sua coleção de maravilhas.
3 comentários:
Ficaram os bons e velhos momentos. Saudade. Muita saudade. Do seu sobrinho/afilhado/filho.
Te amo.
Ficaram os bons e velhos momentos. Saudade. Muita saudade. Do seu sobrinho/afilhado/filho.
Te amo.
Ficaram os bons e velhos momentos. Saudade. Muita saudade. Do seu sobrinho/afilhado/filho.
Te amo.
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