Quando cheguei ao ponto de ônibus a conversa já ia assim:
- Não admitirei que fales mal do casal. Afinal eles esperaram que eu pagasse a ultima prestação do meu terno para se separarem.
-Tens razão. Doze meses já é até bastante tempo...
- Que doze meses? Ta pensando que eu sou o quê? Um miserável? Um pobre-coitado? Paguei o terno em três vezes, sem juros!
- Então o casamento só durou três meses...?
- Sim, nem abriram a caixa do fogão.
- Quem deu o fogão? Você?
- E meu nome é Vadinho prá presentear noivos com fogões? Expliquei que estava sem dinheiro e depois daria a eles o que estivesse faltando... Não falha! Quando vejo que um casamento não tem futuro faço isso. Prometo o presente para mais tarde. Imagine se gasto dinheiro assim. O terno ainda tem alguma utilidade, afinal na nossa idade tem sempre alguém morrendo...
- Que pessimismo mais mórbido!
- Mórbido? Estou é sendo pragmático. Veja o Garcia com aquela úlcera feia que ele tem. Quanto tempo você que vai levar para ela evoluir para coisa pior e morte?
- Jesus Cristo! Agora você está gorando o Garcia? Sei que você não ia muito com a cara dele, até compreendo depois daquela experiência com a Rutinha, mas daí a ficar esperando a morte dele...
- Não estou gorando ninguém, estou só exemplificando...
Chega meu ônibus.
Faço sinal, entro, vou embora pensando na sabedoria do interlocutor. Já gastei muito dinheiro em roupas para casamentos que duraram menos as prestações. Mas o que me intrigava mesmo na volta para casa era a história entre o sujeito, o tal do Garcia e a Rutinha... Essa minha pressa, deveria ter ficado mais tempo no ponto, afinal percebi que o outro sujeito estava se deleitando com a fumaça de meu cigarro...
Um comentário:
EXCELENTE, Roberto!
Sempre falei que você escrevia além do normal.
Parabéns!
Beijos
Mitze
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