O sol brilhava no céu azul, nada havia no mundo que pudesse estragar esse dia tão formidavelmente maravilho. Nada.
Um vento suave entrava pela janela balançando as cortinas, desenhando sombras etéreas no chão recém encerado.
O doce perfume das flores do jardim, docemente invadiam o ambiente.
Aquilo era uma pintura de pura perfeição.
Então delicadamente, ele puxou a arma e disparou um único e fatal projétil contra a cabeça.
Então aquele fio vermelho desenha um contraste nesse quadro.
Não! Não era isso que eu queria escrever. Vamos tentar outra vez.
Praia.
Verão quente, gente bronzeando-se na areia, vendedores de sorvetes, crianças jogando bola e correndo para a água, correndo da água, fugindo dos pais, procurando os pais. O caos do verão.
Sentado em sua cadeira,empastelado de protetor solar, boné, óculos escuros, ele tenta sem sucesso ler o jornal. Tem a seus pés um copo de caipirinha, uma raquete de frescobol e o aparelho celular desligado.
Vindo da calçada, uma loira fenomenal passa por ele, que finge que não vê ou não vê mesmo, pois ainda continua absorto lendo o jornal. Todos à sua volta param o que estão fazendo para ver a deusa semi-nua que desfila em direção a água.
Uma bola chutada por uma criança arrebata-lhe o jornal das mãos. Enfurecido ele olha para o lado de onde veio a bola, levanta-se e sacando uma arma que mais tarde as testemunhas dirão "sabe-se lá de onde saiu", dispara um único e fatal tiro na cabeça.
Não! Não era para sair assim! Vamos tentar outra vez.
O restaurante está cheio, são nove horas da noite, os casais estão jantando, outros namorando, não há mais nenhuma mesa vazia. Ele está sozinho, olha para o relógio. Helena está quarenta e sete minutos atrasada. Helena nunca chega na hora, ela é uma retardatária convicta e crônica.
Ele já está na segunda garrafa de vinho, um espumante italiano, tinto. Ele tem certo receio de vinhos tintos, eles sempre acabam por manchar alguma peça de sua roupa. O garçom, já sem graça, pergunta pela terceira vez se ele quer fazer o pedido, já sabendo que a resposta será não.
- Não. - ele responde, mas como está escrito na linha de cima, o garçom já esperava essa resposta.
Ele bebe o vinho do copo num gole só, e serve-se mais uma vez, esvaziando a garrafa. Faz sinal ao garçom pedindo outra, olha para o relógio e irrita-se. Hoje Helena passou das contas.
Tamborila com os dedos no tampo da mesa. O garçom chega, enche-lhe o copo, que ele sorve de uma vez só deixando os outros fregueses constrangidos, e bate com o copo com tanta força na mesa, que ele parte-se em pedaços.
E enquanto os casais, os garçons e a menina da chapelaria tentavam entender o que estava acontecendo, ele saca do bolso do paletó uma pistola, e num átimo, dispara um único tiro na fronte, morrendo imediatamente, estragando a noite de todos os que lá estavam, deixando particularmente preocupado o garçom, que perdera um ótimo freguês e a caixinha da noite, e intuindo que passaria longas horas prestando depoimento na delegacia.
Não! Mas que diabo! Esse sujeito me larga no meio da história?
Vamos tentar mais uma vez....
Terminado (fica melhor) o espetáculo, as pessoas saem felizes do teatro. A peça, uma comédia ligeira, servira para desanuviar a cabeças das preocupações por duas horas. Duas horas em que tudo que precisaram fazer foi rir, rir sem preocupações, rir das situações e apuros dos personagens no palco, pois sabiam que antes do fim do espetáculo, tudo ficaria bem. Todos seriam feliz para sempre, com cortina descendo e orquestra tocando.
Da platéia veio o aplauso, flores foram jogadas aos atores principais. Fim.
Abraçados os casais saem em direção às suas casas, a restaurantes, a andar na praça e rir. Mas ele, ele foi o último a deixar o prédio, sai meditabundo, cabisbaixo, parece não ter se divertido com a comédia, mais parece ter saído de um velório.
Saiu em passos lentos, com as mãos nos bolso e o olhar triste. No que pensava ele? Que tristes lembranças assolavam essa pobre alma?
Antes de atravessar a rua, tirou um cigarro do maço que trazia no bolso do blazer, acendeu, deu uma baforada para o alto, talvez com a intenção de, com a fumaça, cobrir as estrelas que brilhavam no céu.
Tossiu e tornou a por no bolso e...
...antes que esse miserável resolva matar-se outra vez, escrevo:
FIM
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