2010/11/17

CONVERSA DE BAR E SUAS IMPLICAÇÕES

Na terceira mesa à esquerda de quem entra no bar do portuga, num canto sujo e infecto, sob uma lâmpada de quarenta watts, seis amigos, já altos, conversam, riem alto e bebem outra rodada de chope.
A peroração continua, até que de repente Zé Carlos, o fuinha, batendo a mão com força na mesa a ponto de jogar os amendoins ao chão grita com fúria nunca vista antes:

- Pelo menos eu não sou corno!

O silêncio cai sobre a mesa fazendo mais estrago que um container sobre um fusca. Todos se olham, baixam a cabeça e deixando os copos cheios, as rodelas de lingüiça com cebola e os amendoins no chão. Lentamente, colocam as mãos nos bolsos, tiram de lá uns trocados que deixam sobre a mesa e vão-se. Nunca mais se encontram.

Ou.

Todos se olham, dois pegam o Fuinha pelo colarinho e começam a sacudi-lo, Andrézinho, cobre o rosto com as mãos calejadas e começa a soluçar, num segundo pula sobre Fuinha e ameaça cortar sua garganta com uma tulipa de chope. Os outros dois que estavam ao seu lado ficam espantados com:

1. A violência de Andrézinho, e
2. Saber que ele é corno.

- Logo o Andrézinho o mais bacana de todos ali na mesa, que injustiça!

Os fregueses acorrem para apartar a briga, os garçons correm para cobrar a conta e o português puxa o bigode preocupado com os prejuízos.
O pau corre solto.
Após a briga nunca mais se falam, e dias depois lêem no jornal que Andrézinho foi preso por agressão, mas a mulher passa bem no hospital

Ou.

Entra o pessoal do “deixa disso”, pedem outra rodada de chope e mais amendoim salgado. Fuinha, explica que não sabe o que deu nele para falar uma coisa dessas, bebe três tulipas de chope de uma só vez, engasga, tosse e começa a chorar. Todos se olham sem graça.

- Será que ele é o corno? - Perguntam-se.

O garçom chega com os amendoins e quebra o gelo.
No balcão toca o telefone que o português atende com rápida presteza. Ele grita:


- Telefone “prú” Fuinha, ó Fuinha! É a Dona Emília.


Os amigos param de beber e com os copos a meio caminho entre a mesa e a boca, se perguntam:

- Quem é dona Emília?

Fuinha, calmamente acaba seu chopinho, enche a mão com os amendoins e levanta-se para ir balcão atender ao telefone.
O garçom traz outra rodada de chope.
A noite vai ser longa para explicar essa história...

Ou.

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