2013/07/05

E O ÍNDIO PENSA QUE SOFRE!






Há algum tempo o amigo Índio comentava, não, se queixava mesmo, sobre o funk comendo solto todas as sextas-feiras perto de sua casa. Ao primeiro (não riam, não riam) acorde o sono pulava a janela, e feito ladrão, fugia pela noite adentro para nunca mais. O negócio era rolar na cama e esperar pelo sol. Noite perdida e dia arrastado pela frente.

Mas porque cito o amigo silvícola?

Explico-lhes. Ontem à noite tive uma amostra do infortúnio dele, de uma forma canhestra, mas mesmo assim, incômoda.

Deveria ser nove horas da noite, estava largado no sofá, distendendo meu polegar direito na ânsia de encontrar em algum canal alguma coisa que se prestasse a ser assistida, quando começo a ouvir umas vozes na rua. Pensei que fosse mais alguma movimentação das “massas insatisfeitas”, mas baderna que passaria feito um vendaval, deixando latas de lixo viradas na rua, crianças chorando, velhinhas assustadas e errando o ponto do crochê. Coisa rápida?

Não!

Na rua de frente à minha sala, numa casa, das poucas que ainda resta, um grupo se reunia e aumentava a cada minuto¹.

As vozes aumentando de volume me fez compreender bem o que começava (sim, pois a coisa iria longe) e o que acontecia lá. Estavam se juntado para orar, cantar e dar loas a Deus, ao vivo, aos berros. Cantos, cânticos, louvores e orações, com bater de palmas, urros e, ai é que piora o negócio, um ou outro possuído, começa a gritar em falsete, “Senhor! Senhor!, Senhor!.²

Fechei a janela da sala, do banheiro, dos quartos, da cozinha da área de serviço, e nada. Os louvores atravessavam as paredes. Não obstante a isso, os cachorros da vizinhança começaram a latir³ . A filha do pessoal do segundo andar começou a chorar. O pai, com voz de tenor tentava acalmar a criança que chorava ainda mais.

Da rua vinha os “Ó Senhor! Leva-me contigo Senhor” – nesse momento, incréu que sou acorri à janela, esperançoso de que seriam um ou dois a menos a cantar. Debalde – o que explica essa minha fé em eterno déficit – continuavam todos lá, rigorosamente todos lá, nem um a menos.

A peroração seguiu noite adentro...

Onde entra o Índio nisso?

Lá no funk sempre há esperança que um tiroteio, uma batida da polícia ponha fim naquilo, no meu caso, tive que trancar janelas, fechar portas, colocar minha cabeça entre os travesseiros – como se fosse um cachorro quente – para me ver livre daquilo.

A noite seguiu o roteiro de pesadelo, gritos histéricos pelo “Ó Senhor!” – proferidos por uma senhora que se imaginava numa daquelas igrejas sulistas norte-americanas, pois gritava fora de compasso e juro que quase podia vê-la abanando-se, e calipigia, rebolando e virando os olhinhos a cada “Ó Senhor, leva-me”!

Se o negócio “pegar”, o que será de mim agora? Até hoje não me acostumei com o carro que passa toda noite tocando hip-hop com o Subwoofer balançando as vidraças de casa e derrubando copos na cozinha, com a vizinha do primeiro andar que ainda curte o Calipso e canta junto, da fumaça de cheiro estranho que sobe da rua...

Positivamente estou muito velho para mais uma novidade.







¹-Grupo reunido, sinal de medo, brrrrrr.

²-Esses neo-pentescotais...

³-Por pura incapacidade de reclamarem de outra forma...







2013/07/02

INSANIDADE



Desesperado liguei para o Magrão e disse, quase cochichando:

- Cara, acho que agora enlouqueci de vez!

- Calma, respire fundo, conte até dez e me diga o que houve...

- Acho que eu ouvi um pagode com gaitas de fole...

- ...

- Magrão! Magrão!




2013/07/01

MICRO NARRATIVA/O DIA COMEÇOU TRISTE



O dia começou triste, nem o bem-te-vi ajudou. Os pombos assustaram-se por poucos segundos, mas logo pousaram sobre o corpo.