2019/03/27

O ELEVADOR


Ding.
A porta do elevador abriu. Décimo terceiro andar, estava escrito em letras leds vermelhos na placa defronte.
Décimo terceiro andar, aqui estou. Sim, aqui, agora preciso sair do elevador, respiro fundo e...  Carrego nos braços um ramalhete de rosas vermelhas, paixão! Acho que ela vai gostar. Dou um passo à frente, a porta ameaçou fechar, mas minha perna esquerda a impediu. Doeu, é possível que o joelho inche à noite.
Permaneci imóvel, me sentindo ridículo, com aquelas flores que já começavam a me virar o estômago.
Estaria muito óbvio a quem me visse o que fazia ali?
Indagava-me se deveria seguir em frente, sair de vez do elevador, dar o passo decisivo, seguir pelo corredor, parar em frente ao apartamento número X, tocar a campainha e mostrar o meu melhor sorriso quando ela abrisse a porta...
Logo vai escurecer, constatei olhando o fim de tarde pela janela do corredor do prédio.
As promessas são quase palpáveis, sinto que posso tocá-las, pegá-las e guarda-las em meu bolso.
Isso me excita.
O coração dispara, se não me acalmar ele sairá pela boca.
O que ela deve estar vestindo a essa hora?
- Aquele tafetá verde? Quimono de seda branca com aqueles dragões vermelhos? Usando aquele coque preso com hashis de laca preta, preparando um sushi? – rio-me amargamente dessas perguntas.
Detesto sushi.
Saquê sim...
 Sua fragrância... Quase poderia senti-la nas paredes, no tapete, (ou seriam as rosas?)se eu estendesse a mão poderia tocá-lo, pegá-lo e conservá-lo dentro de meu lenço e desfrutá-lo com mais calma e prazer depois.
Ding. Ding, Ding.
Alguém está chamando o elevador.
Preciso me decidir.
Olho o relógio.
Tic-tac..
Ding. Ding, Ding.
Preciso liberar o elevador.
Desço.
Decididamente sou um covarde.
Lá fora um resto de sol ainda brilha, mas dentro de mim uma chuva torrencial desaba sobre minha cabeça e a água chega a escorrer pelos meus sapatos.
O sax da música do elevador segue em minha cabeça fazendo a trilha sonora do meu fracasso.
- Esse maldito Kenny G e suas músicas...
Deixo pela rua, que agora escurece de vez, marcas de pegadas úmidas pelo chão.
Chap-chap-chap
Ao dobrar a esquina, antes de pegar o ônibus jogo fora as malditas rosas e o seu endereço, sei que demorará me esquecer desse dia. Se ao menos chovesse fora de mim poderia derramar essas lágrimas que agora me afogam por dentro.
- Sabia. 13 nunca me deu sorte!


DESSA VEZ PASSOU PERTO...


na comida menos sal
esta semana a morte
veio brincar em meu quintal...