2015/07/17

SAPOs




Coaxa o sapo
rio, que chova
agora

que chova agora
coaxa o sapo
agora rio

o sapo
    coaxa, rio, agora
chove





2015/07/16

SEGUE AQUI UMA COLABORAÇÃO DO Sr. ALEXANDRE COSTA




NO TAPETE VERMELHO


                Corbel toma um chá na cafeteria mais famosa da cidade, enquanto Allura acorda entre os braços de Lucida a alguns quilômetros dali.
                O chá, ralo demais para seu paladar, é deixado de lado, enquanto as meninas dividem o chuveiro.
                Nem as manhãs para ele, ou a noite para elas, são capazes de evitar a fadiga de mais um dia de trabalho; no entanto é preciso, e se preciso for, preciso será feito, e ambos aceitam resignados seus destinos.
                Corbel olha no relógio e vê o tempo que ainda pode desperdiçar, Allura sai do banho, enquanto Lucida, quase pronta beija sua boca com paixão. Ele imagina olhando para o movimento na rua, que hoje encontrará alguém para dividir e compartilhar a noite; elas saem apressadas pelas escadarias de olho no tempo que não podem desperdiçar.
                E se tudo pudesse ser colocado em um livro, com certeza os três ficariam excitados com a possibilidade de um encontro assim; e essa possibilidade toma forma devagar e sorrateiramente, enquanto Corbel decide ficar ali na cafeteria até que o destino mostre sua cara.
                A quilômetros dali, Lucida e Allura esperam o mesmo para ambas, e decidem encarar o dia como se o destino tivesse enviado a mesma mensagem para as duas.
                E não há dor, nem há razão, nem há motivo ou circunstância que desvie o efeito da causa, ou do que está por vir. E assim acontece que tudo está marcado desde sempre para se realizar.
                Corbel espalha o olhar pela calçada, alcançando o máximo possível de tudo e todos ao seu redor. Lucida aponta para a cafeteria e senta-se a mesa com Allura. No cardápio, o capuccino chama atenção pelo preço e ambas decidem pelo mesmo, mostrando um sorriso cúmplice.
                Na mesa da frente, Corbel deixa escapar um sorriso malicioso e discreto ao mesmo tempo. Nos planos do destino, os três só sairiam dali com a lua em suas cabeças e o desejo em seus corpos.
                O dia estava perdido, e estava ganho também. E foi numa bobagem dita por alguém na mesa, que se juntaram de vez.
                E se essa história não estivesse num livro, onde estaria? Se não estivesse nos três onde estaria? Se não fosse tão banal e corriqueira, o que seria? E feito óculos de sol, onde se vê sem ser visto, o destino levou os três dali sem ao menos perguntar se queriam sua companhia.
                Nenhuma palavra foi dita no caminho nem no tempo, nenhuma pergunta foi feita, pois nenhuma resposta seria necessária.
                Ao entrarem no apartamento, Corbel tirou os sapatos e pisou no tapete vermelho da sala. Lucida tirou a roupa enquanto Allura fechava a porta. Lucida puxou-o com força de encontro a sua boca e Allura arrancou sua camisa. Corbel fechou os olhos e deitou-se no sofá. Lucida sentou-se em seu colo e Allura foi buscar uma taça de vinho na cozinha.
                E os três pareciam apenas um no emaranhado de corpos quentes e suados; e os três pensavam como um entre a loucura e a falta de medo. Corbel entrava e saía de dentro das duas; e os três aos gritos se saciavam um do outro.
                Os corpos espalhados pelo tapete vermelho, não indicavam o fim daquela noite, não para as duas mulheres. Corbel sentiu a boca de Lucida em seu pescoço e, enquanto gritava e debatia-se tentando em vão escapar das suas garras, sentiu seus dentes afiados atingirem seu pescoço.  Allura segurou a cabeça de Corbel apoiada em suas coxas e encheu a taça de vinho com seu sangue.
                Para sempre jovem, para sempre as duas, para sempre o eterno destino que une a presa e o predador.
                A taça de sangue estava cheia, o corpo no tapete vermelho, vazio.

                Nem todas as noites são assim, às vezes só o sono mata a fome.




Querem conhece-lo? Cliquem aqui:   ?Alexandre Costa

2015/07/14

À FERA




já não creio em panaceias
milagres ou prodígios
descuido das dores
não lambo as feridas
já não tenho lágrimas
tenho os pés duros
(quase um casco)
couro em vez de pele
não tenho mais alma
e o espírito (hahahahaha) é de porco
abri há muito mão da humanidade
pouco falta
para voltar a andar de quatro
rastejar, e
voltar prá árvore
virar de vez uma fera,
voltar a selva
(selvagem, como diria o Dante!)
ser humano não dá
isso ai não tem mais cura não


PEDAÇOS INCOMPLETOS




as luzes – longe
da comida – o aroma
o perro - magro feito a morte
a solidão – dum cobertor velho