2011/06/28

O QUE EU DISSE QUANDO CHEGOU MINHA VEZ DE PRONUNCIAR-ME

Depois de ouvir por horas dos cinco irmãos e cinco cunhados as mais lacrimosas desculpas, razões, motivos, “porque sins”, “porque nãos”, gritos, acusações, ofensas, ameaças, ranger de dentes, o mais velho dos filhos disse que agora era a minha vez de expor minha opinião sobre o que fazer com os velhos. E quem me conhece, sabe que essa sempre foi “a minha praia...” O que faltou em apupos sobrou em silêncio e aversão por mim, mas sigamos.
Levantei-me dramaticamente devagar, aliás, os presentes não esperariam outra coisa de mim. Apoiei minhas mãos no tampo da mesa, olhei nos olhos de cada um à minha volta, pigarreei, tomei um gole de água, que bebi lentamente (quase gargarejando) e ao pousar o copo – coisa de segundos - bati fortemente com o punho na mesa fazendo, agora, por vontade própria, uma cena realmente dramática.
Pularam de suas poltronas, arregalaram os olhos, uns mais sensíveis (culpados talvez?) perderam o fôlego e os principais interessados demonstraram medo, medo de verdade. Me alegrei, pois como podem ver, comecei bem.


- Vocês querem a minha opinião, pois aqui vai ela. Sou francamente a favor da internação imediata dos dois. Olhei para o velho casal, eles tiveram um calafrio, discreto, mas eu percebi.

- Vocês! – disse apontando o dedo indicador de forma dramática (detesto quando percebo que, contra minha vontade, agrado determinadas platéias), deveriam ser internados numa clínica imediatamente, para posteriormente serem transferidos para uma casa de repouso. Uma vez uma vez lá, deverão ficar em quartos separados e em alas separadas, nunca mais se encontrando, nem em corredores ou jardins – quando forem levados para tomarem sol –, nem durante as refeições. Deverão permanecer assim até que se esqueçam um do outro. Mas – lá vou eu ser dramático outra vez! –, não pensem que faço isso por maldade. Não! – devo confessar que não fui muito convincente, mas os olhos marejados dos velhos já me bastavam no momento –. Digo isso para o bem de vocês dois. Lá, os velhos – ai pronunciei os “velhos” olhando para os filhos, ignorando totalmente os interessados como se eles já não estivessem mais lá – terão atendimento médico, enfermeiras treinadas, visitas de católicas piedosas, apoio psicológico e principalmente, nenhum motivos para se queixarem de nada! Juro que nesse momento senti a primeira praga da velha nas minhas costas.

- Mais ainda.Vocês terão pessoas para conversarem, para desaguarem esse mar de fel que os corrói por dentro. Para a Dona Celinha vai ser como aquelas férias que ela sempre quis e o velho lhe negou. Lá será casa, comida, roupa lavada e gente para conversar à vontade, não terá que pôr e tirar mesa, lavar louça, eles cuidarão de lembrá-los dos horários dos remédios, e quem sabe, visita dos filhos e netos saudosos (tá certo peguei pesado aqui) aos domingos...

Fiz uma pausa para mais um gole de água que bebi o mais lentamente possível. Na verdade essa pausa era uma provocação, sabia que a qualquer momento um dos filhos ou filhas pulariam em meu pescoço. Os importunava sim, mas é importante que os nobres leitores tenham em mente que eu nunca quis participar dessa reunião, mas o filho mais velho usou argumentos tão convincentes que não o houve como eu recusar e acabei vindo aqui. Sinto que vim aqui não como mais um genro, mas como um artista que dá show em conferências e palestras, só para distrair os presentes, sem influenciar em qualquer resultado – e cá estava eu fazendo o que faço melhor, drama e palhaçada! Sorvido o último gole de água, voltei à carga.

- Agora vejam bem – apontei com esse dedo indicador que ainda haverá de ser item de colecionador, o futuro para o velho.

- Seu Bentinho, o senhor poderá se ver livre das tiranias da Dona Celinha, nunca mais comerá a gororoba ora insossa, ora salgada que ela lhe serve, poderá ler seu jornalzinho – esse momento foi meu ponto alto, por dentro, chorei por não estar sendo filmado – pois juro diante dos presentes que faço-lhe, de todo o coração, uma assinatura do Diário Oficial da União para que o senhor tenha o que ler pelo restos de seus dias. Pense nas enfermeiras que o atenderão, todas bonitonas, de uniformes brancos e justos, todas elas sempre sorrindo, sei que a princípio o senhor estranhará esse hábito das pessoas mostrarem-lhe os dentes todas as vezes que lhe virem, mas creia em mim, todas as pessoas, fora os dessa casa, fazem isso corriqueiramente. Logo logo o senhor se acostumará com isso. Imagine acordar e ver um dia claro, luminoso e, não se assuste, pois aquela grande bola de fogo no céu é o sol. Não me olhe assim tão espantado – não verdade ele estava era ficando apopléctico –. E ao ser levado aos jardins pelas enfermeiras o senhor sentirá como é bom tomar solzinho da manhã. E logo irá sentir-se tão bem que perceberá como foi estúpido economizar tanto dinheiro por tanto tempo, que num átimo, pulará de sua cadeira de rodas – impagável a cara dele com os olhos quase soltando das órbitas – e saíra andando, andando não senhor, correndo...

Olhei para os lados enquanto o filho mais velho dava um calmante para o pai, e olhando para a velha vislumbrei, satisfeito, que ela, com ódio desse escriba, tinha trincado o cabo da bengala.
Olhei para meu relógio e conferi as horas com o velho cuco na parede, dei a entender que tinha que ir embora e voltei ao pequeno e improvisado discurso.

- Não quero, e faço questão de deixar isso bem claro para os presentes, que não desejo nenhum mal aos seus pais, mas somente o melhor para eles agora que o fim se apresenta cada vez mais próximo e em cada esquina – “o fim se apresenta cada vez mais próximo e em cada esquina” -. Meu Deus, que momento de rara inspiração!

Os filhos olharam-se entre si, os velhos – pela primeira vez em muitos e muitos anos – fitaram-se nos olhos e procuraram por Deus naquela sala, mas posso afirmar-lhes, Deus não estava lá! E tremendo em suas bases perceberam que todas as suas maldades, suas maquinações e manipulações tinham cobrado um preço, muito alto, e EU estava lá cobrando...

- Quero, como já frisei anteriormente, unicamente o bem deles, um bem que jamais poderá ser encontrado aqui nessa casa, pois nenhum de vocês tem qualquer tipo de treinamento médico, com exceção é claro do Fred - marido da filha mais velha, veterinário com licença cassada –, então pelos motivos fartamente citados e expostos, voto por mandá-los imediatamente à uma casa de repouso, e nesse momento tiro de minha pasta 007 setenta e dois folhetos de clínicas de repouso e asilos, sendo que sessenta e nove estão localizados em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Acre. De olhos marejados, jurei que era a melhor, bastava pesquisar na internet, outros em Maranhão, Rio Grande do Norte e dois ou três nas Guianas .

- Para terminar tão longa e cansativa peroração, quero ratificar os meus melhores votos ao Seu Betinho e Dona Celinha, e desejo do fundo de meu (raso) coração todo o bem e toda a felicidade a vocês e que seja feita somente a vontade do Bom Deus! Então abaixei minha cabeça em uma muda oração que confrangeria o coração de qualquer um com um mínimo de fé na humanidade.

Terminando de falar esperei que alguém entusiasmado deixasse de lado certas antipatias por mim e aplaudisse meu discurso, mas que nada, somente o silêncio temperado por um enorme e amargo desprezo me acompanhou até fora da sala. Saí dela sem que o filho mais velho me pagasse a velha dívida prometida. Mas, uma vez na rua, praguejei sacudindo meus punhos para o céu: - Espero que todos vocês morram quinze minutos depois de encontrarem a felicidade!
Esperei que um raio seguido de um estrondo cortasse o céu como se fosse uma confirmação do registro da minha praga, mas...





2011/06/21

Nada a Declarar

Ah! Deus!
Cada dia mais e mais
Sou assolado pela deficiência
De assunto, do quê falar

Nem pergunto o porquê
Sei a resposta
Sim, eu sei
É esse fastio em que (dês) vivo

Já não me satisfaz mais percorrer
Zanzar, deixar os pés me levarem
Circular, peregrinar a esmo
Me deixar perder pelas ruas

Me indago:
“Quem estará mais vazio:
Eu? A cidade à minha volta,
Ou os chãos que (re) piso?”

Vos engano, iludo, ludibrio, tapeio
Tomo de vocês tamanho tempo,
Tão precioso, me lendo
Buscando entender o que tento dizer

Entendam, coisa nenhuma vos digo, nada,
Sim, confesso, sou uma embalagem vazia
Um palco abandonado
Sou a folha de jornal que o vento leva

De volta pelas mesmas ruas
Avenidas, alamedas, becos
Que há tão pouco tempo,
Perdido em pensamentos, passei

Entrevista com “ JOÃO POETA – O MÚSICO!”



Hobbs Nietsch – Hoje teremos a grata satisfação de receber em nossa estação o grande poeta e compositor...

Lindomar Orlando - ...João Poeta

Hobbs Nietsch- Isso mesmo João Poeta! (falando com o Lindomar Orlando) Mas não me interrompa de novo, ok?

Lindomar Orlando – Desculpe, não farei isso de novo, mas é que fui movido pela emoção de ficar tão frente-à-frente deste ícone, deste monumento, deste ídolo, deste...

Hobbs Nietsch – (interrompendo) Tá bom, tá bom já entendemos a sua bichice, digo sua emoção. Mas vamos ao nosso convidado João Poeta e seu eterno acompanhante Cotinho Silva com seu afinadíssimo violão!

(Aplausos)

Lindomar Orlando - Com vocês, João Poeta, mais aplausos (Batendo palmas) Lindos lindos... (assobiando)

(Aplausos)

Hobbs Nietsch – (Interrompendo) Pare com isso, chega de tanto aplausos!

(Sons de passos e cadeiras sendo arrumadas, violão sendo afinado e copos sendo cheios)

Hobbs Nietsch – Por favor, poeta, queira desculpa meu destempero, mas é que o meu companheiro aqui, parece que se descontrolou um pouco...

João Poeta – Que é isso? Não vejo motivo para o senhor se desculpar dessa forma... Eu sei o que é ter um parceiro... (Bebendo)

Cotinho Silva – (Pigarreia e afina o violão)

Hobbs Nietsch – Mas diga lá Poeta, quais as novidades, o que lhe trazem à nossa tão aprazível cidade?

Lindomar Orlando – O senhor pretende tocar alguma coisa para nós aqui na rádio?

Cotinho Silva – (Começando a tocar alguma coisa no violão)

João Poeta – (Interrompendo) Só um instantinho Cotinho Silva, só um instantinho, sim? (Bebendo)

Cotinho Silva – (Pigarreando) Certo Poeta, certo. Quando você achar melhor. Certo, certo.

João Poeta – (Falando com Hobbs Nietsch) E é você que estava reclamando do seu parceiro, eu carrego essa cruz à vinte anos, se não fosse pelo violão... (Bebendo)

Cotinho Silva e Lindomar Orlando - (pigarreando )

Hobbs Nietsch – Vamos aos nossos intervalos comerciais e já voltamos o grande João Poeta e Cotinho Silva.

(Aplausos)

(Intervalo comercial)

Hobbs Nietsch - O programa de hoje é um oferecimento de Hábeas-corpus, o primeiro laxante a base de hexobipantamenol acetílico permanato, próprio para o trato da flora e da fauna intestinal. Hábeas-corpus deixa seu intestino muito mais solto.

Lindomar Orlando - Tome Hábeas-corpus e sinta-se livre para fazer e comer o que quiser.

(Aplausos)

Lindomar Orlando – Posso falar agora?

Hobbs Nietsch – Claro que pode e por favor, queira continuar a nossa programação.

Lindomar Orlando – Com vocês o grande Poe...

Hobbs Nietsch – (Interrompendo) Ora vamos logo com isso os nossos ouvintes sabem quem estamos recebendo aqui hoje...

João Poeta – (em off) Ai ai ai meu Deus, pelo menos não sou o único a sofrer assim. (Bebendo)

Hobbs Nietsch – Poeta, não posso deixar de reparar que o senhor está muito bem, parece que rejuvenesceu nessas suas férias pela Europa. O senhor pode nos dizer qual é o seu segredo?

Cotinho Silva - (afinando o violão ao fundo)

João Poeta – Viajei sozinho, dessa vez deixei o Cotinho da Silva aqui no Brasil. (Bebendo) Vocês não fazem idéia de como é bom ficar sem ouvir esse violão...

Cotinho Silva - (pigarreando e parando com o violão)

Lindomar Orlando – Onde o senhor irá se apresentar aqui em nossa cidade? Soube que sua curtíssima temporada tem um único patrocinador...

Hobbs Nietsch – O senhor poderia declinar o nome desse patrocinador?

(Mistura de tango com forró)

João Poeta – (constrangido) (Bebendo) Estou aqui graças à Casa do Norte e Pertences para Feijoada Pepe-Manolo e hijos!

Cotinho Silva – (começando a tocar o violão)

João Poeta – (interrompendo irritado) Nem comece, pelo amor de Deus, nem comece... (Bebendo)

Hobbs Nietsch – O senhor pode nos dizer alguma coisa do seu novo CD?

Lindomar Orlando – Segundo os críticos especializados...

João Poeta - (Bebendo) Desculpe mas você falou em críticos especializados, especializados em quê, só se for em mecânica de autos?

Hobbs Nietsch – (em off) Mas você não dá uma a dentro, olha só o estado do homem...

Lindomar Orlando – Desculpe, mas as pessoas que já ouviram o seu novo trabalho, comentam que pela primeira vez o senhor está usando teclados e deixando de lado o violão. Por que essa opção essa mudança? O senhor não teme desagradar os seus fãs mais antigos??

Cotinho Silva - ( Tocando o violão)

João Poeta - (Bebendo) (chutando o banquinho onde Cotinho está sentado) Pelo amor de Deus, à vinte anos que eu carrego essa cruz, eu não suporto mais isso, é esse maldito violão tocando ao lado à vinte anos, todos os dias, em todos lugares, e a qualquer hora, eu estou enlouquecendo.... (Bebendo)

Cotinho Silva – (gaguejando) Mas poetinha... (começando a tocar o violão)

João Poeta – (interrompendo irritado) Nem comece, pelo amor de Deus nem comece... (Bebendo)

Hobbs Nietsch – Lamentamos informar que motivos técnicos teremos que interromper a nossa programação.

Lindomar Orlando – (em off) Acho que o Cotinho não vai tocar violão tão cedo, olha lá o Poetinha arrebentando o violão nas mãos dele...





(estática)

2011/06/14

O CRIME MISTERIOSO DO BANDIDO CRITERIOSO

CAPÍTULO SETE



(Música suave)

(agulha arranhando disco)

Narrador - (alguma música melosa e chata de Kenny G) - Após sua recuperação da circuncisão, Eriberto da Costa segue sua rotina noturna de volta para casa mais uma vez. Ao passar por uma lanchonete onde acabara de comer 1kg de amendoim sem casca e ter conversado calorosamente com um travesti fantasiado de galo da madrugada, vinda de uma festa à fantasia na Igreja de Nosso Sr. do Quadrado Universal, enfia a mão no bolso e retira um objeto sólido, tendo por base um polígono qualquer, e por lados triângulos que se reúnem num mesmo ponto, criando um vértice. Ou seja caros ouvintes (música de suspense) ... uma pirâmide!
Ele então se desfigura completamente quando olha para o objeto, e sai à caça daquele que havia há pouco, preenchido o vazio da noite solitária que vive a cada novo anoitecer.
Volta para a lanchonete e convida o traveco para um passeio.

(ao fundo, baixo, ouve-se I’ll Survivor)

Narrador - E no momento em que passam pela Rua Rego Souto com a Rua Das Caixas ele retira de dentro do bolso dianteiro direito (bolso das moedas), uma faca dentada, usada para abrir picadas na selva com grande facilidade, ainda com a etiqueta de preço e a garantia de 10 anos ou 1000 vítimas, e desfere 129 punhaladas no pé esquerdo do traveco, que minutos depois, viria a morrer de insuficiência hepática.
Quando sai de lá, deixa em cima do corpo, bem na testa da vítima, a pirâmide, sem antes é claro tatuar com henna no peito da vítima as iniciais BB.

Eriberto da Costa - Pronto, agora estou melhor - exclamou!!! - A próxima vítima será um certo delegado que odeio com todas as minhas forças... E eu, Bianca Bill, estarei completamente vingadaaaaaaaaaa!!! (Eco)

(som de harpa, passarinho)

(agulha arranhando disco)

Dr. Epiphanio Luzico – (sons de tapas) - Acorde Eriberto, acorde, saia desse sonho psicótico, você esta sob efeito da anestesia, para de falar bobagens. (sons de tapas) Vamos Eriberto, recupere-se, temos muito trabalho a fazer e minha mulher quer saber como estou me sentindo na pós-cirurgia. Vamos Eriberto- (sons de tapas) – tenho que explicar para aminha mulher como estou me sentindo. Eriberto -(sons de tapas) – não foi esse o desenho de sereia que eu pedi para a minha tatuagem - (sons de tapas) – Não sei porque eu fui contratar um incompetente como você - (sons de tapas) – Acorde, acorde, acorde (fade-out)

(música mais chata ainda de Kenny G)


Eriberto da Costa (murmurando) - Vingança, vingança, vingança...


(som de vidraça sendo quebrada)

Narrador – E através da vidraça da janela do décimo quinto andar do hospital uma réplica de pirâmide é arremessada.

Dr. Epiphanio Luzico – Mas que maçada! - (sons de tapas) – Eriberto acordE agora mesmo, outro crime foi cometido! - (sons de tapas) – Acorde, acorde, acorde (fade-out)

(vinheta dramática)

Narrador – No próximo capítulo teremos revelações assustadoras. (vinheta de suspense) - Quem teria sido capaz de arremessar uma réplica de pirâmide, através de quinze andares e acertar o quarto de Eriberto da Costa! - (vinheta de suspense) – Saberemos por que Eriberto porque Eriberto se submete assim aos caprichos do Doutor Epiphanio Luzico. Haverá poi ai um mistério insondável? - (vinheta de suspense) – Como o Doutor Epiphanio Luzico que somente se preocupa com o próprio umbigo pensa em resolver essa onda de crime? - (vinheta de suspense) – Por onde andam os nossos personagens diferenciados Legina Herena e Régio Campos D’Orvalho? - (vinheta de suspense) - Estarão eles envolvidos direta ou indiretamente nesses crimes? - (vinheta de suspense) – Quantos capítulos mais terão essa novela? - (vinheta de suspense)

(som de telefone tocando)

Narrador em off - Quando nossos ouvintes entenderão que minhas perguntas são retóricas? (vinheta de suspense)





FIM DO CAPÍTULO SETE

Continua aqui


O MEMORIOSO ESTAVA INSPIRADO QUANDO PERPETROU ESSE TEXTO, LEIAM

MEMORIOSO

2011/06/10

LÉOZINHO E O MAR


Essa era para ser só mais uma das nossas reuniões etílico-literárias. Mas ah!, as coisas que fazemos para agradar as mulheres...

Depois de anos ouvindo os comentários desairosos delas, chamando-nos de bando de poltrões, vagabundos e ignorantes que perdemos nossas vidas em cervejas e caipirinhas, resolvemos nos reunir um sábado por mês (mas só se chovesse) para discutirmos os livros que lemos na nossa juventude, sim, juventude, porque nessa altura de nossas vidas, só temos tempo para ler um jornalzinho e olhe lá...

Mas como dizia quando comecei a divagar, era o sábado aprazado (e sim, chovia) para a reunião, estávamos já quarta ou quinta garrafa de cerveja, e em vozes altas discutíamos o livro O Velho e o Mar, do Ernest Hemingway, como vocês bem devem saber, ou se não sabem segue aqui um breve resumo, que, que ninguém nos leia, saquei do google para impressionar os amigos, afinal nessas alturas já não lembro nem a cor das minhas meias, muito menos livros que li em minha juventude:

“Depois de passar quase três meses sem fisgar um peixe, escarnecido pelos colegas de profissão, o velho Santiago enfrenta o alto-mar, sozinho, em seu pequeno barco. Quer provar aos outros e a si mesmo que ainda é um bom pescador. É em completa solidão que ele travará uma luta de três dias com um peixe imenso, um animal quase mitológico, que lembra um ancestral literário, a baleia Moby Dick.
À medida que o combate se desenvolve, o leitor vai embarcando no monólogo interior de Santiago, em suas dúvidas, sua angústia, sentindo os músculos retesados, a boca salgada e com gosto de carne crua, as mãos úmidas de sangue. Por fim o peixe se dobra à força do pescador. “Mas a vitória não será completa - surgem os tubarões...”

Frisson, uaus e vivas - fez bonito.

A partir daí começamos um papo bem macho, principiamos a discutir pescarias e contar causos e mais causos, quando lá do fundo da sala, Léozinho levantou a mão e disse que também gostava muito de pescaria, logo o Léozinho cuja existência ninguém reparava, pouco faltava para tropeçarmos nele, tão insignificante era sua figura. Olhamos uns para os outros e rimos baixinho, mas rimos. Léozinho gostava de pescaria? Nunca o vimos nem tomando sol na praia...
Pela primeira vez na vida centro das atenções, aproveitou e começou a sua peroração sobre a arte de pescar, mas percebendo nossa incredulidade, resolveu convidar-nos à sua casa.

Fomos!

Rapaz o que vimos na garagem dele, nunca vimos nem lojas especializadas!

E lá começou a apontar para os objetos exposto e a descrever-los:

- Esse aqui é uma carretilha Shimano Curado 201 DHSV, carretilha perfil baixo com 6 rolamentos, capacidade para 110 metros, isso aqui - enquanto descrevia ia vestindo - é um colete Sampo para pesca oceânica, que permite uma rápida junção entre o pescador e o equipamento. Feito em tecido sintético branco telado, que garante o conforto térmico e a ventilação durante a utilização. Ah! Essa isca de superfície desenvolvida por Nelson Nakamura, um dos maiores pescadores do Brasil. Muito eficiente na pesca do Robalo, Robalo que eu preparo com uma farofinhas de camarão... e de várias outras espécies. Tamanho: 9 cm. Esse peixinho aqui na minha mão – quase esfregando em nossas caras – é uma isca artificial Miss Carna, fabricada no Japão. Uma das iscas mais eficientes na pesca no mar. Possibilita ótimos arremessos. Trabalho em zigue-zague. Tamanho: 14 cm. Peso: 40 gramas

Extasiado com as discrições dos materiais, em estado de plena graça, estava quase se elevando do chão. Nunca vimos o Léozinho falar desse jeito, ele estava dando uma aula para a gente.

- E esse alicate então? Com balança para até 17 kg e corda para prender no pulso. Já esse outro alicate é fundamental para embarcar os peixes na pesca com iscas artificiais. Com balança para até 17 kg e corda para prender no pulso. Bóia Paulistinha, a melhor para o robalo. Muito eficiente na pesca com camarão vivo. Bóia Petersen com chicote de aço, muito resistente. Ideal para pesca de carpas em pesqueiros, ou robalos com camarão vivo. Peso: 27 gramas. Case Pelican 1490 a prova d´água, ideal para o transporte de celulares, rádios, máquinas fotográficas, notebook´s e gps´s em embarcações. Totalmente vedado. Com válvula automática de pressão. Fabricado nos EUA. Dimensões internas: 44,5 X 29 X 3,8 cm. Caixa estilo bandeja com profundidade menor, tamanho 34,5 X 21 X 3cm, com travas reforçadas e a possibilidade de ajustar de 5 a 34 compartimentos.

Ele já estava em frenesi...

- Aqui temos um anzol forjado em aço estanhado, próprio para ser utilizado em água salgada. Extremamente resistente perfeito para corricar...

- Péraí - tivemos que interromper - afinal o que é corricar?

Com que desprezo ele nos respondeu, com um desprezo...

- Corricar é rodar, girar uma rodinha ou rodela, simples o Hemingway nunca descreveu isso em seus livros? Francamente... Mas voltando ao assunto, aqui eu tenho as minhas varas de pesca, esta por exemplo possui um conjunto para pesca com mosca, essa aqui é uma vara de grafite, com cabo em cortiça, 9´ de comprimento em 2 partes, 5/6 WT. Linha floating # 6 e backing de dacron 20 lbs. Acompanha um cortador de linha, uma tesoura para retirar a mosca da boca do peixe e 5 moscas variadas.

Enquanto Léozinho falava e descrevia em tom professoral todos os seus materiais de pesca, nos ficávamos mais bestas ainda... Como era complexo pescar!

- Essa aqui é uma caixa térmica que pode ser ligada um acendedor de cigarros de 12 V, conservando os alimentos quentes ou frios. Sem necessidade de gás é perfeita para viagens de carro, para uso em trailers, em vans ou caminhões. Compatível com fonte opcional para uso em casa ou no escritório. Nunca precisa de gelo, portanto termina com o problema de água escorrendo ou alimentos encharcados. Esfria até 22º C abaixo ou aquece até 38º C acima da temperatura ambiente. Uso vertical ou horizontal com bandeja divisória. Porta que pode abrir tanto para a esquerda com para a direita.
Mas enquanto Léozinho aponta com seu chaveiro de mira laser para os apetrechos, começamos a nos cutucar discretamente, mostrando uns aos outros que todo o material estava intacto, como se nunca tivesse sido usado antes. Foi ai que Viviano resolver pergunta a razão disso. Quando Léozinho estava pronto para responder, apareceu Cidinha, esposa dele, e disse:

- Ele só está esperando comprar uma lancha para usar!

Outra surpresa! Léozinho comprando uma lancha para pescar. Logo, se ele iria pescar, nós seus amigos, também iríamos, certo?

Quase!

Diante de nosso espanto diante de sua resposta, Viviano tornou a perguntar para Cidinha:

- É mesmo? E depois?

Olhando profundamente para os olhos de Léozinho ela respondeu:

- Pego as crianças e me divorcio. - Virou sobre os calcanhares e foi embora.

É por isso que eu digo, “Homem que é Homem não perde tempo discutindo livros...”

2011/06/08

CAFÉ CLUB TRINTA MINUTOS

Ou

O CAFAJESTE


Já é sabido que a felicidade não dura. Seja qual for o tipo de felicidade ela é finita, acaba de uma forma ou de outra, ela chega ao fim.
Minha alegria era o Clube Trinta Minutos, nome estranho para uma cafeteria concordo, mas era lá que me encontrava diuturnamente, de segunda à sexta-feira para o meu sacro-santo cafezinho após o almoço. Lá, feito um rei, um ditador ou mesmo um tirano, discutia de tudo, dos rumos que esse pedaço de barro chamado mundo às mais absurdas teorias, quer literárias, que científicas.
Discutia, pensava, teorizava e assim queimava meus trinta minutos de café expresso, preto e quente.
Assim foi por muito tempo.
Mas um dia a serpente, oriunda do Paraíso lá no começo dos tempos, apareceu.
Surgiu risonha, alegre, espalhando felicidade – e quem me conhece sabe o que penso de quem traz felicidade gratuitamente – e com ele a nossa ruína...
Do meu grupo de dois – sim, éramos eu e um querido, companheiro de armas, xícaras e penas, dois quixotescos e felizes palradores -, passamos a três indivíduos sem assunto. Sim o terceiro elemento nessa fórmula de desgraça e infortúnio não falava a nossa língua – digo isso em sentido figurado, pois ele tartamudeava palavras em português, mas não entendíamos qualquer sentido nelas – tão pouco comungava de nossos interesses.
A princípio tentamos ignorá-lo, fingíamos que ele não estava ali, e tanto nos esforçávamos que muitas vezes saíamos sem pagar-lhe o café, oportunidade em que tentávamos em poucos segundos colocar trinta minutos de assunto em dia, mas aos poucos, como numa erosão, ele foi minando nossa barreira de desprezo e começou a participar, não, ele passou a participar de nossas conversas, ele passou a nos interromper de tal forma que nossa mesa tornou-se uma espécie de Embaixada de Babel, pois eram três pessoas falando três assuntos totalmente diferentes e conflitantes entre si.
Em várias oportunidades quase fomos à vias de fatos, pois entre tantas conversas desencontradas, nos ofendemos sem querer, pois mesclávamos a conversa de um com a conversa do outro, resultando assim numa fórmula altamente volátil...
As atendentes foram as primeiras a notar as bruscas mudanças em nosso comportamento. De fregueses gentis e atenciosos, passamos a princípio, a fregueses nervosos, exigentes e implicantes. Aludíamos a qualquer defeito, por mínimo que fosse ao nosso café. Ora era a espuma do leite, cor do café, sabor do açúcar, cor da xícara, sujeira na mesa. Depois, simplesmente, deixamos de cumprimentá-las. Sentávamos, e estalando os dedos, ficávamos esperando que as atendentes nos servissem, quanto mais anônimas e indiferentes melhor. Tornamo-nos uns monstros.
Toda a alegria daquela hora esvaiu-se, perdeu-se o encanto, o prazer da conversa, as discussões agora eram quase um convite para um duelo, um crime. Éramos, sem o saber, somente uns autômatos viciados em cafeína e sem alma.
A serpente roubara, aos poucos, nossa alegria de conviver aqueles mil e oitocentos segundos de prazer em conversar, de bebericar nosso cafezinho e até a simpatia das atendentes.
Mas a desgraça maior ainda estava por vir, sim a borrasca estava encobrindo o horizonte e logo ele despencaria sobre nossas cabeças.
Então um dia, era meio-dia - não poderia ser de outra forma – entra a Eva que faltava para esse drama bíblico-paradísiaco.
Ela surgiu na forma de uma moça sentada solitária na mesa ao lado, com elegância desusada, sorvia o conteúdo de sua xícara com prazer de quem sabe saborear um bom café.
Sorria, pensava, quero crer em alguma coisa boa.
Um misto de inveja e ódio assolou a mim e ao meu amigo. Como poderia alguém estar feliz ali, quando eu e ele tínhamos que aturar aquele monturo de estrume em forma de gente ao nosso lado discorrendo sobre suas últimas façanhas sexuais, suas façanhas pantagruélicas...
Sua felicidade anônima que deveria ser um raio de sol tornou-se a nossa ruína definitiva.
Vendo a feliz criatura ali à nossa frente o sátiro, imbuído dos mais baixos instintos levantou-se e foi ter com ela. Qual não foi o nosso alívio naqueles segundo que prenunciavam o nosso fim...
Pensamos, com o peito cheio de esperança – que tolos éramos - que enfim ele iria embora, nos deixaria em paz para todo o sempre ou pelos próximos minutos.
Ele achegou-se nela como uma desgraça que desaba, como um dedo que nos acusa em público e destrói nosso nome e família para todo o sempre. Ele a segunda encarnação de Átila, o Huno, o Flagelo de Deus, sem pedir licença puxou a cadeira e sentou ao lado da pobre e vestal – sim, sei que peguei pesado agora, mas que sirva para ilustrar a situação – e beijou-lhe o rosto, como se conhecera por toda a vida.
Desnecessário descrever o espanto da moça, sua reação, mas cabe esclarecer o nobre leitor o que aconteceu e nos espantou.
Ao ser osculada na face, ao invés de sentir-se ultrajada, ela sorriu, ao invés de esbofetear o sátiro ela pediu à atendente mais uma xícara para ele.
Em nossa mesa, esperando a tragédia que deveria desenrolar-se ali, espantados vimos mais uma vez o cafajeste “dar-se” bem outra vez.
Com os olhos, sem forças ou coragem para articularmos qualquer palavra, perguntávamos que tipo de encanto tinham os cafajestes que exercia tal fascínio sobre as mulheres.
Entre enojados – com o café frio – e desencantados com a vida, fomos embora, afinal já havia chegado a hora de voltarmos ao trabalho.
Pela primeira vez desde que nos reuníamos ali, a hora de irmos nunca tinha demorado tanto a chegar.
Pela tarde chega-me um e-mail – CC para meu amigo de infortúnio - do boçal, no qual ele descrevia com riquezas de detalhes como havia sido sua conversa com a Solange – ufanava-se de ter-lhe perguntado o nome logo que se sentara à mesa – e dizia quase babando – sim, exagero para que possam sentir o meu repúdio por esse ruminante – que marcara encontro com ela para amanhã “lá no café”.
Olhei pela janela do meu escritório – dez andares - e cogitei pular.
Mas amanhã é outro dia pensei estupidamente.
Minha fé é e sempre será a raiz de minha ruína. Já pedi à Dona Creuza, mais conhecida como a Tia da Faxina, para anotar essa frase e mandar colocá-la em minha lápide.
O dia acabou, mas a imagem da mensagem na tela de meu computador continuou me assombrando durante a noite, e revirando-me na cama me pegava recitando esse mantra: - Aquilo não iria acabar bem, não iria acabar bem, não iria acabar bem...O novo dia nasceu, sem bons augúrios, devo salientar. Fui trabalhar, e a primeira providência foi telefonar ao meu amigo e confirmar se iríamos ou não ao café naquele dia. Após curto pensar, respondeu-me que não, não deveríamos sequer estar na mesma cidade quanto mais sob o mesmo teto onde aquele “asno-priápico” estaria imolando mais uma fêmea no altar de seu ego sem tamanho.
Mas como disse anteriormente - linha cinqüenta e quatro - éramos irremediavelmente viciados em cafeína, e alguma coisa em nosso interior ansiava ver no que daria aquela sua mais nova conquista.
Nossa mesa esperava por nós, entramos, as mocinhas nos ignoraram com uma altivez e desprezo só dirigido aos mais execráveis dos leprosos. Uma vez sentados, estalamos os dedos e ficamos aguardando:


1. O café,

2. O animal no cio, ou o que chegasse primeiro.

Ele chegou com o sorriso imbecil e arrogante de sempre, cumprimentou as meninas, que para nosso desgosto eterno, retribuíram com sorrisos, beijinhos e fazendo trejeitos faceiros e simpáticos.

- Responda-me leitor, qual o segredo dos cafajestes? Sigamos.

Mas para a nossa alegria, a única desde que essa assombração surgiu em nosso horário de almoço, ele não se sentou à nossa mesa, e passando por nós, foi sentar-se na mesa da frente, onde no dia anterior Solange havia surgido.
Poucos minutos depois ela chegou sorrindo mais que no dia anterior, reparei nisso, comentei com meu amigo e continuamos esperando pelo café, que depois de nossa mudança de comportamento passou a demorar cada dia mais. Solange dirigiu-se à mesa onde estava o Fauno risonho.
Emudecidos fomos servidos. Meu café que pedi com leite, veio sem; e de meu amigo que pedira cappuccino, recebera um chá de menta, mas já estávamos acostumados a esse tratamento, pois no fundo, involuntariamente, a culpa era nossa.
Enquanto as mocinhas recolhiam nossas bebidas erradas entrou no Café um homem estranho, estranho até para os padrões das pessoas que conhecíamos. Ele parou na porta, esperou que seus olhos se acostumassem à pouca iluminação, piscou, uma, duas vezes, e com passos firmes e decididos dirigiu-se à mesa do casalzinho de ocasião.
Não pudemos ouvir o que ele falou, mas pelo gesticular das mãos a coisa não estava boa, vimos nosso Sátiro tornar-se um gatinho assustado, vimos com baboso júbilo o “predador” olhar para os lados procurando uma saída, uma fuga. Com prazer – que encontrou um paralelo junto com a chegada de nossos pedidos, agora corretos – vimos o homenzarrão agarrar o falastrão pelo colarinho da camisa e levá-lo de encontro à sua cara grande, ornada de um não menos grande óculos quadrado, onde de sua boca voavam perdigotos furiosos.
Meu amigo olhou para mim, eu li seus pensamentos, e antes que ele articulasse qualquer palavra, sílaba ou sentença, respondi-lhe em alto e bom som:

- Não vamos apartar nada! Que vença o melhor!

Enquanto sorvíamos o café, assistíamos aquele espetáculo que prometia muito mais que simples ameaças, que nos prometia sangue, muito sangue e quem sabe, morte! Crime passional. Morte!
Engasguei-me na segunda vez que pensei na morte e manchei a minha camisa marrom. Sorrindo comentei com meu amigo que essa mancha seria uma espécie de medalha, um marco a ser comemorado todos os dias, e uma vez por ano como o “Dia em que Ele Morreu”!
Fizemos tim-tim com as xícaras vazias e pedimos uma garrafa de água com gás para celebrar.
Esperávamos com mórbido prazer o desfecho – sangrento quero salientar - desse drama, o sujeito deveria dar logo o golpe fatal, logo mesmo, não deveria deixar de forma alguma que o celerado abrisse a boca, ele deveria ser abatido enquanto estava na posição de presa, pois se lhe fosse dada a oportunidade de argumentar, tudo estaria perdido.
Enquanto bebíamos a gasosa água, nossos olhos brilhavam de satisfação ante o fim derradeiro daquele ruminante, cuja sua segunda língua era o português, ele, ele, ele...

- Não! – gritamos em uníssono.

Enquanto o gigante míope tomava ar para continuar a espinafração, aquele macaco no meio-caminho evolutivo começou a falar.
Jogamos a água fora, pagamos a conta e fomos embora.
Tudo estava perdido, amanhã seria outro dia igual ao de hoje, novas bravatas seriam despejadas em nossos ouvidos, mais um dia de tortura, trinta minutos de agonia, trinta minutos de cafés errados, trinta minutos de cafés frios, trinta minutos que levariam uma eternidade para passar...









2011/06/06

ODE AOS NOSSOS AMIGOS

(Ah! Esses grandes afortunados!)
Aos amigos que nos suportam
(Como uma cruz às suas costas, é bem verdade)
Que (às vezes) conosco se importam
A esses amigos que atormentamos
Quer com nossa fácil presença
(que é fácil de se livrarem)
Quer com nossas constantes homenagens
Sempre muito bem humoradas
(segundo nosso afiado senso de humor)
Aos nossos amigos
Que teimam em nos convidar
Às suas casas
Que nos recebem, sempre
Com mesa farta
Copos cheios
Resignação infinita
Fleuma britânica
E sorrisos sinceros
(e às vezes amarelos, é verdade)
Abraços fortes
(que pensamos serem os últimos nessa vida, tamanha falta de ar nos dá)
A vocês que teimam em continuarem nossos amigos
Das horas incertas, e às vezes bem altas...
A vocês nossos amigos, que
Na falta de uma palavra doce como o mel
Suaves como as nuvens que passam pelo céu azul
Leves como a brisa perfumada que balança as cortinas de vosso lar
Delicadas como a seda
Carinhosas como as caricias num gato gordo e velho
(quem já teve um sabe o que digo)
A vocês queridos e fraternos amigos
Mais fiéis que aqueles que possuem o mesmo sangue
O temos a lhes oferecer em troca de tanta afeição?

- Sim. As nossas bandalheiras!

Feitas da mais verde bílis que corre em nossas veias
(que alguns incautos, pensam ser sangue azul)
Mas saibam que nada em nós é mais sincero
Que o doce sentimento que temos por vocês
Mesmo quando todos a sua volta riem nossas piadas
(Sobre vocês, doces irmãos)
Mesmo quando, por um átimo, lhes passa pela cabeça um relâmpago homicida.
Mesmo quando vocês se arrependem de terem retirado os cacos de vidro da sobremesa na última hora.
Ou se perguntam por que atenderam a porta.
Lembrem-se, essa é a nossa forma de dizer o quanto amamos vocês.
Sim, triste é o vosso infortúnio, é fato!
Mas pensem bem:

- Ainda é melhor nos terem como amigos, que como inimigos...

O ASSASSINO TÍMIDO


Duas facadas nas costas, não mais que isso, somente duas, duas muito bem dadas, foi fundo até o cabo, até sujei as mãos, enfiei, virei lá dentro das costas e depois enfiei outra vez, como eu disse, só duas facadas e não mais que isso, afinal, duas já mata e mais que isso ele poderia gritar, gritar meu nome e o senhor sabe o que penso sobre gritarem ou mesmo só falarem meu nome, eu morro de vergonha.
Posso ser um bandido, ladrão e até mesmo assassino, mas sou antes de tudo um tímido, tão tímido que se falam meu nome comigo por perto fico vermelho, a cara esquenta, acho que até mesmo os cabelos arrepiam.
Então, por causa dessa minha timidez desenvolvi uma forma rápida de matar o desinfeliz, duas bem dadas nas costas, pegando o pulmão, ou seja lá o nome que dão praquele órgão que sangra feito porco, tuf-tuf, e pronto, tá o corpo estendido no chão.
Não dou nem tempo pro cadáver olhar pra mim, aliás, para o meu próprio bem, já pensou se, imagine só, ele sangrando, tonto, tudo se apagando e de repente ele olha prá mim? Ponha-se no meu lugar, tímido como sou, sou capaz de desmaiar...
Não senhor, sou um cabra muito macho, mas fazer o quê se sou tímido?
Por isso não vou prá guerra, as armas até que são boas, tem bastante potência, dá prá matar um bocado de gente, mas é aí que mora o perigo...
Muita gente em volta de mim, muita gente na minha frente, muita gente atrás, não dava não, não dava não, eu ia morrer ali mesmo, antes de dar o primeiro tiro, nem unzinho...
Pois é por isso doutor, por causa dessa minha maldita timidez, que estou aqui prestando esse depoimento pro senhor com as luzes apagadas, não é por vergonha do que fiz não, não tenho vergonha nem arrependimento, é só por causa desse meu acanhamento mesmo, imagine o doutor que eu não tenho carteira de identidade por causa dos fotógrafos, não há quem me coloque de frente pro sujeito e praquela máquina, veja doutor, nem penteio os cabelos, morro de vergonha de olhar prá minha cara no espelho...
Quando eu ia imaginar que quando gritaram - Severino!- estavam chamando o pedreiro da obra e não eu? Pois quando ouvi meu nome, pelo menos eu pensei que fosse o meu nome, fiquei ali paralisado, suando frio, com o carão vermelho de vergonha, nesse minuto tão curto, foi que me prenderam.
Não sei mais o que faço com tanto acanhamento...

2011/06/03

Homem Criado Por Mãe E Irmã É Assim

Ontem no “Metrópoles” tomando um café com o Magrão, vi na mesa ao lado um antigo colega de infância desses que a gente evita cumprimentar, atravessa a rua para não ser visto, sai da fila do Banco, pula do ônibus quando ele entra, acho que vocês já entenderam.
Lá estava ele sentadinho com mais duas pessoas.
Mais que depressa, virei a cara para o outro lado, afinal a última coisa que eu queria era ser reconhecido por ele, ali, naquele lugar.
Tomei meu cafezinho, feito um egípcio, (de lado) o tempo todo. E, de gole em gole, surgiu essa pérola:



homem criado por mãe e irmã é assim
delicado
educado
entende de ciclo menstrual
sempre carrega um absorvente no bolso
anda com passos curtos e nervosos
(e nas pontas dos pés)
tem a mão hidratada
unhas aparadas e limpas
lenço sempre perfumado
só bebe licor de menta
sensível
chora à toa...
nunca é um prazer encontrá-lo na rua
pois fatalmente nos fará sentir vergonha na frente de algum amigo



Pois é, está cada vez mais perigosa a sagrada hora do cafezinho. Já não basta Magrão arrumar as encrencas dele e ainda me aparecem essas assombrações do passado!

2011/06/02

DÚVIDAS TANTAS

o que dói mais no estômago?

fome ou soco?

comida ou indigestão?

o aço da faca ou

o vazio que rói por dentro?

o rato ou o filé?

o que dói mais?

o que se quer ou

o que se tem?

o que arde nos olhos?

ver longe e saber que nunca se terá ou

saber que o que se tem nunca nos satisfará?

o que incomoda mais?

a dúvida ou

a certeza dura e crua à nossa frente?

e o caminho...?

seguir em frente ou

ficar e esperar...?

mas o que é o pior mesmo?

ter as respostas ou

só as perguntas?

à direita ou

à esquerda?

com armas ou

flores à mão?

ser ou não ter?

deus tem todas as respostas ou

eu é que não sei as perguntas?

mas a fome...

A Velha Santinha


Dona Celinha tira mais uma folhinha de seu calendário de santos e, para seu desgosto, amanhã é dia quatro de dezembro. Ela passa as mãos nos cabelos e corre para o telefone.
Liga para as irmãs.
Está quase descontrolada, gagueja, e não consegue falar coisa com coisa., a única palavra mais ou menos compreensível é:

- Quatro de dezembro, quatro de dezembro...

A irmã ao telefone, depois de uns segundos de mudez, desliga o telefone, ela entendeu a mensagem.
Dona Celinha começa a correr de um lado para o outro culpando-se de tamanha distração, como ela não percebeu a chegada desse dia?? Sobe as escadas do velho sobrado, vai ao quarto da mãe.
A mãe é uma velha inválida, amnésica, trinta e dois anos numa cadeira de rodas. Coube a Dona Celinha cuidar da velha quando herdou a casa.

-Se eu soubesse que esse era o preço... - resmunga enquanto ajeita a velha na cadeira.

– Vamos vegetal, está chegando aquele dia outra vez. – Sacode a velha e por fim a empurra em direção ao banheiro.

- Hoje é dia de banho, hoje e amanhã. Hoje para tirar as sujeiras, amanhã para ficar cheirosinha. Afinal as suas outras filhas vêm aqui.

Banha a velha como quem lava um tapete ou um cachorro morto. (Não me perguntem quem lava cachorro morto.) Enxugada, troca-lhe os farrapos, penteia-lhe os cabelos, que miseravelmente continuam negros, enquanto o dela, todos brancos. Procura pela bagunça do quarto onde está a dentadura. Amaldiçoa a mãe e o calendário, xinga os filhos que já se foram e o marido, morreu antes dela. Empurra a velha escada a baixo.

– Hoje é dia de tomar sol, quem sabe assim a senhora cause uma boa impressão amanhã?

Lá fora, no quintal aproveita para alimentá-la. Dá-lhe um café ralo e um pedaço de pão. Faz-lhe uma tosca maquiagem, quer ver se assim consegue disfarçar a palidez de quem vive enclausurada num quarto.
Volta à cozinha, olha outra vez para a folhinha.

- Sim, amanhã é dia de Santa Bárbara!

Encosta-se numa parede e suspirando pergunta se realmente merece passar por tal provação.
Toca o telefone. É outra irmã. Ela quer saber se tudo está preparado para amanhã. – Sim, tudo está sempre preparado para amanhã, menos eu - responde mal humorada. Quando tudo isso irá se acabar, quando?
A irmã não responde, e como a outra, também desliga o telefone na sua cara. Dona Celinha pensa em chorar, mas onde arrumar lágrimas agora?
O dia passa lentamente, enquanto na calçada em frente a casa, pessoas começam a aglomerar-se. Chegam trazendo cadeiras, outras, cestas com comida, até a chegada da noite haverá carrinhos de pasteis, cachorro quente, pipoca, crentes rezando, outros se postarão de joelhos orando-chorando-e-rangendo-dentes...

- O circo está começando a se formar. – Fala para si mesmo Dona Celinha, num misto de ódio e nojo. - Maldito vegetal! Rosna para a velha na cadeira de rodas.

O telefone toca e a noite chega.
Dia seguinte.
Ao som de vozes, gritos, choros, pregoeiros vendendo de tudo, e o onipresente telefone, Dona Celinha acorda. Acorda de mau humor. Vai à cozinha e retira mais uma folhinha do calendário.

- Quatro de dezembro...

Olha pela janela, antevê, pressente, mais do que vê, o céu carregado e as ruas cheias de gente.

- Quatro de dezembro.

Lá fora um trovão faz a casa tremer nos alicerces, e da rua vêm as orações das pessoas. O telefone toca, ela sabe que agora não tem mais como ignorá-lo. Atende sabendo que é uma de suas irmãs. Logo todas chegarão para organizar o espetáculo.

- Quando terei meu merecido descanso meu Deus, quando?

Dona Celinha vai cuidar do velho vegetal como havia ameaçado ontem, hoje deveria dar-lhe outro banho, deixá-la apresentável para o “espetáculo”, afinal, a qualquer momento ela deveria começar. De todos os contratempos dessa maldita data, a expectativa do “espetáculo” era o que mais a mortificava. Onde estariam as suas irmãs? Ela não conseguiria dar conta de tudo sozinha, será que elas não viam que ela estava ficando velha demais para isso? E esse maldito vegetal não colaborava com a situação. Como banhá-la, penteá-la, como trocar esses trapos por uma roupa decente?
Outro trovão, e as rezas lá fora ficam mais altas. Dentro do sobrado dá para sentir os cheiros das velas e das flores lá fora. Começa a chover, e indo contra toda a lógica, mais gente se aglomera lá fora.
Enfim chegam suas irmãs, chegam criticando e dando ordens. Reclamam da demora para arrumar a velha, reclamam da roupa escolhida, do penteado e por fim, resolvem pintar as unhas do vegetal.
A chuva engrossa e as rezas também.
Os trovões tornam-se intermitentes, trazendo uma sensação de fim-de-mundo.Dona Celinha, computando os prejuízos de uma vida inteira de servidão em troca de um teto, chega a desejar realmente que tudo se acabe, para que enfim tenha seu merecido repouso, mas outro trovão a traz de volta à realidade.
As gotas de chuvas tamborilam nos vidros das janelas, um raio ilumina a sala e outro trovão faz os quadros balançarem nas paredes.

- Veja! – Diz espantada Lucinda, irmã mais nova de Dona Celinha.

- As mãos de mamãe, elas se mexeram – completa Eclesiástica, irmã do meio.

- O que vocês esperavam? Deixem de bobagem. – ordena Dona Celinha, impaciente com o falso espanto das duas.

- Eclesiástica, vá para a rua e comece a por ordem na fila, Lucinda, vá para frente e comece a vender as entradas. Essa velha só nos dá alegria nesse dia, então vamos fazer valer cada dia de sofrimento que ela me fez passar. Vamos, vamos, vamos!

Eclesiástica abre a porta e quando entra a primeira pessoa, o velho vegetal tomado de uma energia nunca dantes vista (nesse ano, é claro) levanta-se da cadeira de rodas e tomada sabe-se por qual espírito põe-se a pregar e a falar em línguas desconhecidas. Logo a sala é tomada pelas pessoas molhadas que desde a noite anterior postavam-se à sua porta. A sala não é grande o bastante, a multidão grita para que a velha venha para fora. Dona Celinha grita que isso é impossível, e discretamente pergunta à Lucinda quanto já arrecadou com a venda de entradas, mas a gritaria geral não permite que se ouça outra coisa. A velha, com surpreendentes passos firmes dirige-se à porta.
Na rua o povo cala-se diante da santa milagrosa, da santa que só anda e fala uma vez por ano, da santa capaz de dominar a chuva, os raios e os trovões.

- Que mensagem ela nos dará esse ano? – Pergunta uma devota para a pessoa ao lado.

- Que maravilhas ela fará? – Pergunta outra.

Chove ainda mais forte, torna-se impossível ouvir qualquer outra coisa que não sejam os pingos batendo no chão, nas pessoas, nos capôs dos carros. Embora nada se ouça, todos prestam atenção nos mínimos movimentos da velha santinha. Espantados, todos testemunham o seu primeiro prodígio. Levantando suas magras e encarquilhadas mãos para o céu, num único movimento, ela pára a chuva, silencia os trovões e dá fim aos raios. O populacho deslumbrado cai no chão e cobrem o rosto num misto de medo e respeito.
Silêncio.
A velha olha para todos os seus fieis, ela regozija-se, olha para as filhas, que distraídas, contavam o dinheiro arrecadado com o “espetáculo do velho vegetal”, essa cena a aborrece.
Com um vago e discreto gesto, um vento forte vindo do nada, espalha as notas para cima da multidão, que deixando de lado a fé na velha santinha começa a se digladiar. Essa cena também aborrece a velha santinha.

- É para isso que eu venho a vocês uma vez por ano?

Diante da voz poderosa da velha, os que brigavam por causa do dinheiro pararam, as filhas que brigavam entre si por conta das poucas notas que sobraram em suas mãos pararam, os vendilhões pararam de gritar para vender suas mercadorias, e o pipoqueiro esqueceu-se de tampar a panela, deixando assim que os grãos estourassem para a rua, emprestando uma ilusão passageira de neve.
A velha santinha, imbuída de uma ira vinda do Velho Testamento, faz um raio fulminar as três filhas e uma tempestade de proporções diluvianas levar seus crentes para longe de si, no claro desejo de nunca mais vê-los.

- Chega de milagres! Chega de promessas de salvação! Chega de vocês infiéis crônicos!

Tornando a sentar-se me sua cadeira de rodas, ela entrega-se ao velho estado vegetativo e lentamente a chuva começa a parar.

2011/06/01

O CRIME MISTERIOSO DO BANDIDO CRITERIOSO

QUINTO CAPÍTULO

(um capítulo que é um bife)


Locutor – O que Régio Campos tem para contar a Legina Herena não é de nossa conta. Não agora!

Agora é hora de sabermos por que Marcio, o marciano, faz esse joguinho sinistro de manipular a mente de Eriberto, fazendo-o acreditar que ele de fato existe, e Epiphanio para que acredite que de fato ele não existe. E, porque, de repente, do nada, ele aparece dentro da gaveta da mesa de Eriberto na delegacia. Que segredo esconde Marcio, o marciano – se é que ele existe? (Telefone toca) Nem eu mesmo sei. Ou será que ele próprio é o segredo, ou que não tem segredo nenhum, porque de fato ele não existe? (Telefone toca) Além disso, temos o caso do assassino que não tem nada a ver com Marcio, mas que por algum motivo que não me recordo agora me deixa com dúvidas? (Telefone toca) Será que eu existo, ou sou uma manipulação da mente de Marcio, tentando me fazer acreditar que não existo e que mais nada existe, para esconder o fato de que alguma coisa muito sinistra existe?

(Telefone toca)

Por favor, alguém atenda esse telefone, não posso perder o fio da meada de meu raciocínio! (pigarro) Não sei quem poderá responder a todas essas perguntas, mas eu não sou essa pessoa. Então de agora em diante é melhor a gente prestar mais atenção na história do que em toda essa cepa de opiniões sem fundamento que estou colocando agora para vocês, ouvintes!
No entanto, existe um mistério, porque não poderia ser de outra maneira, ou acabaríamos a história aqui mesmo e perderíamos todos os nossos patrocinadores. Coisa que o nosso amado chefe não gostaria que acontecesse de maneira alguma.
Voltemos então a prestar atenção nos fatos decorridos desde o primeiro assassinato até o momento em que Marcio, o marciano – se é que ele existe - desaparece da gaveta da mesa da delegacia e deixa Eriberto apavorado.
Espera aí. Será que Eriberto sabe de alguma coisa que ninguém mais nesta história sabe? (Telefone toca) Será que ao invés de Marcio, o marciano, seria Eriberto uma alucinação? (Telefone toca) Será que todos aqui estamos sendo enganados por esse astuto bandido, fazendo-nos acreditar que a existência de um assassino das pirâmides, encobre o verdadeiro assassino das iniciais BB? (Telefone toca) Com certeza este capítulo em que narro sobre os acontecimentos da nossa história, e coloco em dúvida tudo que já aconteceu até aqui, é o melhor, modéstia parte.
Ou, enquanto isso, enquanto eu falo sem parar, o assassino da pirâmide comete outro crime embaixo de nossos olhos e ninguém vê? (Telefone toca) Será? (Telefone toca) Mais uma vez quem saberá responder esta pergunta deve ser o delegado Epiphanio. Quem mais poderia? (Telefone toca) E pra falar a verdade, também não sei que festa de aniversário é essa que acontece agora na história.

(Ao longe, bem baixo, ouve-se vozes que cantam parabéns para você, sons de buzinas, gritos, fogos de artifício, palmas)




FIM DO QUINTO CAPÍTULO

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