A VIDA REAL CONTINUA
Naquela casa de subúrbio outra vez.
Ela anda de um lado para outros roendo as unhas e olhando par o telefone sobre a mesa, na mão esquerda trás o celular. Já mandou os filhos para a casa da avó, colocou comida no pote do cachorro na esperança que uma hora dessas ele retorne ao lar, a cama já está feita,a comida pronta, passou até as cortinas, varreu a casa três vezes, colocou uma música suave para tocar – um pagode romântico- regou a plantação de tiriricas e samambaias nas frestas do quintal, já fez de tudo para manter-se ocupada, mas o telefone não toca.
Ainda segurando o celular pendura-se no muro de casa esperando alguma chamada, já são cinco e quinze da tarde, o sol logo irá se pôr...
Cinco e meia da tarde, as unhas da mão direita roídas, enfim o celular toca.
Angustiada e sem fôlego ela responde:
- Alô, alô, alô!
- Calma mulher, calma, o que é isso?, está fugindo de cobrador ou do ex-marido? Ta pronta?
- Claro que estou pronta, aliás, já estou pronta desde as dez horas da manhã. Achei que você não fosse me ligar mais hoje. Isso são horas... – interrompida.
- Não comece com cobranças. Será que você nunca aprende? Não me pressione, não me cobre, não me exija nada, não me dê diretas nem indiretas, quer que eu desligue esse telefone na tua cara? Quer?
Silêncio constrangido e magoado, quase se ouve um suspiro...
- Desculpe, é que fiquei preocupada...
- Preocupada com o quê? Por quê? Quando te dei liberdade de se preocupar comigo? Tá pronta ou não?
- Tô...
- Fala alto que não estou de ouvindo direto, ta cansada? Mulher preguiçosa.
- Estou pronta sim. Quando você vem me buscar?
- Olhe eu tive uma idéia genial, coisa de louco, de gênio, nem no cinema se vê uma coisa dessas. Lembra que você me perguntou qual era o meu sonho erótico?
- Lembro sim, qual é o seu sonho? – responde rindo de felicidade. A noite está ganha! - murmura para si mesma.
- Você está pensando alguma coisa?
- Eu...?
- Pois para com essas suas idéias ou passe a pensar mais baixo. Não tenho tempo para suas tolices e pare já com o choro...
- Desculpe...
- E deixe de tanta reticência...
- (silêncio constrangido)
- Por sua causa veja quanto minutos preciosos nós perdemos. Sua irresponsável. Sabe duma coisa? Acho que vou prá casa, se tiver que me aborrecer com alguém, que seja com minha mulher.
- Não – gagueja nervosa – não, não vá embora. Me conte sua fantasia, estou disposta a fazer o que você quiser.
- Ok. Preste bem atenção ao que vou te falar, se for preciso, anote prá não errar. Essa é a tua última chance. Pegou papel e caneta? Então vamos lá.
Quarenta e sete minutos depois ela sai de casa, o sol já se pôs, a noite chega e ela sai de casa vestindo uma mini-saia de couro preto, meia arrastão, rasgada nas coxas, sandália de saltos altíssimos – tropeçou algumas vezes – maquiagem supercarregada, cabelo Chanel, blusa vermelho berrante, batom combinando, cílios postiços – que pegou emprestado com uma prima - bolsinha de corrente dourada – emprestada da vizinha - e na mão direita a chave de casa que ela ia rodando pelo caminho. Já noite fechada chega ao centro da cidade.
Todo o comércio já fechou, aberto só os bares mais mal afamados de onde se ouve músicas de gosto duvidoso, pessoas as suspeitas circulam por lá. Ela rodando as chaves de casa anda para cima e para abaixo na rua escura. As “profissionais” olham-na com um misto de suspeita e pena, pois suas carnes “vazam” pela sua blusa e a saia de couro está prestes a rasgar. Sob um poste ela tenta ver as horas.
- Está ficando tarde, onde esse sujeito terá se metido? – nervosa pede um cigarro a uma mulher sentada na escadaria dum hotel.
Duas horas e várias cantadas depois, ela sabiamente deduz que ele não vem mais. A fome começar a bater, o cigarro deixou sua boca seca, sedenta ela entra num bar, encosta no balcão – sua maquiagem já está totalmente borrada - e pede um copo de água. Um marinheiro que bebia conhaque oferece-lhe uma bebida, a princípio ela sente-se insultada – Afinal quem você pensa que eu sou? – Mas o marinheiro é sueco e não entende nada de português e concluindo que ele nunca iria fazer fofoca para ninguém conhecido, sem qualquer relutância, aceita.
Mais tarde irá acordar na cama de hotel com um maço de notas de dólares na cabeceira da cama.
- A noite não foi uma perda total – consola-se.
Antes de voltar para casa passa no supermercado e faz compras para os filhos, antes de ir para a cozinha para em frente ao telefone para ver se há mensagens para ela...
Naquela casa de subúrbio outra vez.
Ela anda de um lado para outros roendo as unhas e olhando par o telefone sobre a mesa, na mão esquerda trás o celular. Já mandou os filhos para a casa da avó, colocou comida no pote do cachorro na esperança que uma hora dessas ele retorne ao lar, a cama já está feita,a comida pronta, passou até as cortinas, varreu a casa três vezes, colocou uma música suave para tocar – um pagode romântico- regou a plantação de tiriricas e samambaias nas frestas do quintal, já fez de tudo para manter-se ocupada, mas o telefone não toca.
Ainda segurando o celular pendura-se no muro de casa esperando alguma chamada, já são cinco e quinze da tarde, o sol logo irá se pôr...
Cinco e meia da tarde, as unhas da mão direita roídas, enfim o celular toca.
Angustiada e sem fôlego ela responde:
- Alô, alô, alô!
- Calma mulher, calma, o que é isso?, está fugindo de cobrador ou do ex-marido? Ta pronta?
- Claro que estou pronta, aliás, já estou pronta desde as dez horas da manhã. Achei que você não fosse me ligar mais hoje. Isso são horas... – interrompida.
- Não comece com cobranças. Será que você nunca aprende? Não me pressione, não me cobre, não me exija nada, não me dê diretas nem indiretas, quer que eu desligue esse telefone na tua cara? Quer?
Silêncio constrangido e magoado, quase se ouve um suspiro...
- Desculpe, é que fiquei preocupada...
- Preocupada com o quê? Por quê? Quando te dei liberdade de se preocupar comigo? Tá pronta ou não?
- Tô...
- Fala alto que não estou de ouvindo direto, ta cansada? Mulher preguiçosa.
- Estou pronta sim. Quando você vem me buscar?
- Olhe eu tive uma idéia genial, coisa de louco, de gênio, nem no cinema se vê uma coisa dessas. Lembra que você me perguntou qual era o meu sonho erótico?
- Lembro sim, qual é o seu sonho? – responde rindo de felicidade. A noite está ganha! - murmura para si mesma.
- Você está pensando alguma coisa?
- Eu...?
- Pois para com essas suas idéias ou passe a pensar mais baixo. Não tenho tempo para suas tolices e pare já com o choro...
- Desculpe...
- E deixe de tanta reticência...
- (silêncio constrangido)
- Por sua causa veja quanto minutos preciosos nós perdemos. Sua irresponsável. Sabe duma coisa? Acho que vou prá casa, se tiver que me aborrecer com alguém, que seja com minha mulher.
- Não – gagueja nervosa – não, não vá embora. Me conte sua fantasia, estou disposta a fazer o que você quiser.
- Ok. Preste bem atenção ao que vou te falar, se for preciso, anote prá não errar. Essa é a tua última chance. Pegou papel e caneta? Então vamos lá.
Quarenta e sete minutos depois ela sai de casa, o sol já se pôs, a noite chega e ela sai de casa vestindo uma mini-saia de couro preto, meia arrastão, rasgada nas coxas, sandália de saltos altíssimos – tropeçou algumas vezes – maquiagem supercarregada, cabelo Chanel, blusa vermelho berrante, batom combinando, cílios postiços – que pegou emprestado com uma prima - bolsinha de corrente dourada – emprestada da vizinha - e na mão direita a chave de casa que ela ia rodando pelo caminho. Já noite fechada chega ao centro da cidade.
Todo o comércio já fechou, aberto só os bares mais mal afamados de onde se ouve músicas de gosto duvidoso, pessoas as suspeitas circulam por lá. Ela rodando as chaves de casa anda para cima e para abaixo na rua escura. As “profissionais” olham-na com um misto de suspeita e pena, pois suas carnes “vazam” pela sua blusa e a saia de couro está prestes a rasgar. Sob um poste ela tenta ver as horas.
- Está ficando tarde, onde esse sujeito terá se metido? – nervosa pede um cigarro a uma mulher sentada na escadaria dum hotel.
Duas horas e várias cantadas depois, ela sabiamente deduz que ele não vem mais. A fome começar a bater, o cigarro deixou sua boca seca, sedenta ela entra num bar, encosta no balcão – sua maquiagem já está totalmente borrada - e pede um copo de água. Um marinheiro que bebia conhaque oferece-lhe uma bebida, a princípio ela sente-se insultada – Afinal quem você pensa que eu sou? – Mas o marinheiro é sueco e não entende nada de português e concluindo que ele nunca iria fazer fofoca para ninguém conhecido, sem qualquer relutância, aceita.
Mais tarde irá acordar na cama de hotel com um maço de notas de dólares na cabeceira da cama.
- A noite não foi uma perda total – consola-se.
Antes de voltar para casa passa no supermercado e faz compras para os filhos, antes de ir para a cozinha para em frente ao telefone para ver se há mensagens para ela...
4 comentários:
Sujeito pragmático.
Muita patifaria mesmo...hehehehe!!!
Salve salve, Sir Robert I e único!
Isso deveria virar um livro...
Ou então uma peça de teatro...
ou existir somente em forma de texto...
uma mescla de amor incondicional com burrice... a vida crua!
Adorei mesmo!
Armando Junior
Eu diria que é cafasjestagem no mais auto grau de patifaria.
Pois se essa vagabunda resolvesse trabalhar sua vida seria diferente.
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