Homenageávamos uma querida amiga.
Antes de continuar essa narrativa
devo, a bem da verdade, dizer que uma pessoa chamou-me a atenção desde que
cheguei. Uma senhora de grande circunferência e peso, que trajando um vestido
cereja-incandescente atraia as pupilas desavisadas daqueles que atravessavam o
umbral da vetusta igreja.
Um ano de falecimento.
A ela eram-lhe feitos discursos,
comentávamos a sua falta. Testemunhos,
demonstrações de grande afeto, depoimentos sem fim. “Hasta” que chega o (assim se apresentava o bufão) “quebrador de
paradigmas” – o sem noção de costume, o ladrão do brilho alheio – e põe-se
vomitar dialética, politizar a falecida, esquerdificar
suas posições, suas declarações, suas ações, procurei, discretamente as bandeirolas
vermelhas com foice e martelo, não as vi, mas devem ter esquecido em algum
lugar por ali, ou - deliro, sei – planejavam para o fim uma passeata...
Apresentou-se como “adevogado”
& poeta!
Ia começar a perpetrar um poema
em homenagem à finada quando, enojado, saí da sala sentindo a triste vergonha
alheia.
Estava sem tomar o meu omeprazol,
logo começariam os refluxos...
Fiquei a zanzar aguardando acabar
a cerimônia, pensando com meus botões que talvez a homenageada não estivesse
curtindo tanto assim a tal preito.
Mas, quem sou eu para saber das
coisas do além?
Acabada a cerimônia, fomos ao coquetel,
propriamente dito, e à confraternização, pois estamos todos naquela fase da
vida onde só nos encontramos agora em enterros, deixando para lá os aniversários,
casamento e batizados.
Abraços daqui, abraços dali,
fugindo de um ou outro, fotos e mais fotos. Estava já esquecido da chateação
anterior quando, após fotografar um grupo de amigas, umas das presentes (nem
tão amiga minha assim...) deu-me seu celular para que eu tirasse a mesmísima foto...
Peguei o aparelho e logo lhe
disse que ele não estava funcionando, ao que ela me responde que o dito
aparelho é ruim mesmo...
Mexeu daqui, mexeu dali e me
devolveu o aparelho, foquei, apertei o disparador, e devolvi-lhe o aparato.
Brava ela me responde:
- Para quem se diz fotografo,
você fez uma merda de foto.
Foi nesse momento que tudo o que
estava azedando-me o estomago veio à tona.
- Antes de dizer que sou um mau fotografo, compre um aparelho que preste, cale essa boca e pelo amor de Deus,
troque de roupa. Sua cereja hidrófoba!
Aliviado o estômago, parti para
os salgadinhos.
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