NO TAPETE VERMELHO
Corbel toma um chá na cafeteria
mais famosa da cidade, enquanto Allura acorda entre os braços de Lucida a
alguns quilômetros dali.
O chá, ralo demais para seu paladar, é deixado de lado, enquanto as meninas
dividem o chuveiro.
Nem as manhãs para ele, ou a noite para elas, são capazes de evitar a fadiga de
mais um dia de trabalho; no entanto é preciso, e se preciso for, preciso será
feito, e ambos aceitam resignados seus destinos.
Corbel olha no relógio e vê o tempo que ainda pode desperdiçar, Allura sai do
banho, enquanto Lucida, quase pronta beija sua boca com paixão. Ele imagina
olhando para o movimento na rua, que hoje encontrará alguém para dividir e
compartilhar a noite; elas saem apressadas pelas escadarias de olho no tempo
que não podem desperdiçar.
E se tudo pudesse ser colocado em um livro, com certeza os três ficariam
excitados com a possibilidade de um encontro assim; e essa possibilidade toma
forma devagar e sorrateiramente, enquanto Corbel decide ficar ali na cafeteria
até que o destino mostre sua cara.
A quilômetros dali, Lucida e Allura esperam o mesmo para ambas, e decidem
encarar o dia como se o destino tivesse enviado a mesma mensagem para as duas.
E não há dor, nem há razão, nem há motivo ou circunstância que desvie o efeito
da causa, ou do que está por vir. E assim acontece que tudo está marcado desde
sempre para se realizar.
Corbel espalha o olhar pela calçada, alcançando o máximo possível de tudo e
todos ao seu redor. Lucida aponta para a cafeteria e senta-se a mesa com
Allura. No cardápio, o capuccino chama atenção pelo preço e ambas decidem pelo
mesmo, mostrando um sorriso cúmplice.
Na mesa da frente, Corbel deixa escapar um sorriso malicioso e discreto ao
mesmo tempo. Nos planos do destino, os três só sairiam dali com a lua em suas
cabeças e o desejo em seus corpos.
O dia estava perdido, e estava ganho também. E foi numa bobagem dita por alguém
na mesa, que se juntaram de vez.
E se essa história não estivesse num livro, onde estaria? Se não estivesse nos
três onde estaria? Se não fosse tão banal e corriqueira, o que seria? E feito
óculos de sol, onde se vê sem ser visto, o destino levou os três dali sem ao
menos perguntar se queriam sua companhia.
Nenhuma palavra foi dita no caminho nem no tempo, nenhuma pergunta foi feita,
pois nenhuma resposta seria necessária.
Ao entrarem no apartamento, Corbel tirou os sapatos e pisou no tapete vermelho
da sala. Lucida tirou a roupa enquanto Allura fechava a porta. Lucida puxou-o
com força de encontro a sua boca e Allura arrancou sua camisa. Corbel fechou os
olhos e deitou-se no sofá. Lucida sentou-se em seu colo e Allura foi buscar uma
taça de vinho na cozinha.
E os três pareciam apenas um no emaranhado de corpos quentes e suados; e os
três pensavam como um entre a loucura e a falta de medo. Corbel entrava e saía
de dentro das duas; e os três aos gritos se saciavam um do outro.
Os corpos espalhados pelo tapete vermelho, não indicavam o fim daquela noite,
não para as duas mulheres. Corbel sentiu a boca de Lucida em seu pescoço e,
enquanto gritava e debatia-se tentando em vão escapar das suas garras, sentiu
seus dentes afiados atingirem seu pescoço. Allura segurou a cabeça de
Corbel apoiada em suas coxas e encheu a taça de vinho com seu sangue.
Para sempre jovem, para sempre as duas, para sempre o eterno destino que une a
presa e o predador.
A taça de sangue estava cheia, o corpo no tapete vermelho, vazio.
Nem todas as noites são assim, às vezes só o sono mata a fome.
Querem conhece-lo? Cliquem aqui: ?Alexandre Costa
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