2012/10/09

DOMINGO




A primavera acabou, chegamos ao verão. O calor começa a reinar e derreter.

Recolho-me à sombra de minha casa, digo apartamento, terceiro andar, fundos. Domingo à tarde, o pior pedaço da semana, o dia que se arrasta em direção à segunda-feira. Torço para ninguém aparecer em casa, para o telefone não tocar, e se tocar não atenderei. Almoço e depois vou descansar, dormir mesmo, afinal, o resto do dia será a agonia do fim, será só estertores, aflição.

Deito, fecho as janelas, a escuridão me da a falsa impressão de frescor, o quarto torna-se minha caverna. Abraço o travesseiro e começo a adormecer.

Afundo no colchão e modorra. Lá fora, bem-te-vis e sanhaços fazem sua festa barulhenta e irresponsável...

De olhos fechados, ouço com estranha alegria essa balburdia, e vou aos pouco escutando vozes que vem do andar térreo, são crianças de seus três, quatro anos, elas brincam, gritam, correm, caem ao chão, chamam pelo pai que, calmamente, antes que elas comecem a chorar, diz que está tudo bem, não foi nada, vai passar.

Nunca fui muito fã de crianças e congêneres. Mas que coisa deliciosa de se ouvir, os sons e ruídos de uma família reunida, reunida e feliz. As vozes misturavam-se durante o que me pareceu ser um jogo de futebol entre pai e filhos.

A confiança das crianças no pai, a segurança que ele transmitia aos miúdos, como diriam os portugueses. Caíam e não choravam, marcavam gol contra e não reclamavam. Isso durou mais de meia hora, só interrompido quando a avó deles chamou para o almoço.

Antes de dormir de vez imaginei a mesa, os pratos, e a avó diligente e amorosa servindo a todos.

Pensei que isso sim era amor.

Dormi roído pela inveja.

O Domingo acabava bem para eles...

 


2 comentários:

Silvio Barreto de Almeida Castro disse...

Eu se fosse o senhor iria comer um caranguejo no Boavista.

Anônimo disse...

Ah! O amor.