O tio presenteou-o com o um livro, grosso, muitas páginas, capa dura, ilustrações feitas a bico de pena, detalhes em dourado.
Havia muitas histórias de cavaleiros, dragões, batalhas, armas, sangue, intrigas, uma pitada ou outra de romance – mas pouca coisa, nada que distraísse muito. Mágicas, magos poderosos, gigantes, anões, calabouços, chuvas violentas, fogos, gritos, ais de mocinhas, gritos de soldados, era um grande épico - como se houvesse pequenos épicos! Aventuras de mãos cheias!
- Aposto que você nem vai dormir enquanto não acabar de lê-lo – disse lhe o tio orgulhoso.
A criança segurou o livro e correu para seu quarto.
Horas depois a mãe o encontrou prostrado na cama, chorando baixinho.
Aos soluços explicou:
- O que será de mim se nunca mais dormir por causa do livro?
Jogando o livro pela janela a mãe resmungou:
- Seu tio e essas porcarias de livros. Eu disse a ele, dê uma bola ao menino, mas não...
A criança assim dormiu e acordou tão ignorante como sempre foi.
4 comentários:
Realidade fantástica, nua e cruel!!!!
Sinceridade? Dar um Épico para uma criança já é antecipar o que a mãe fez,embora aos nove anos eu já lia Machado de Assis e Dostoiévski, mas diziam que eu não era normal.
MUITO BOM!
Beijos
Mirze
Me lembro que moleque ainda, li O CAPOTE do Gogol...
Eu me amarrava em Agatha Cristhie.
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