2012/02/27

O ZEN-BUDISMO RESOLVE?



Oito e cinqüenta e cinco.

O tempo passa e logo ela chegará.

Estou aperfeiçoando minha técnica zen-budista de concentração e de desligamento da realidade à minha volta. O meu mestre é severo e cobra caro, mas parece que sou um bom aprendiz, pois às vezes consigo realmente me desligar do mundo, só voltando quando sufoco. Essa é a parte ruim do negócio, me desligo tanto que me esqueço de respirar. Mas logo vou superar essa fase.

Nove horas.

A qualquer momento ela entrará...

Chegou.

“Ozérobertovaimorrerelevaimorrerjáestouatévendoquandochegaremcasaànoitevouencontrareleestiradonochãodacozinhaqueueacabeidetrocaropisoeaindaestoupagandoelevaiestarmortomortomasnãopenseelequeporcausadamortedelevoudeixardefazerminhaviagemhanãovoumesmovocêbemsabequejáestoupagandoaviagemfazseismeseseeuaviseiqueseelenãosecuidasseemorresseeulargavaelemortonochãodacozinhamesmoeuatéjáfaleiparaaminhafilhaqueseelemorrernochãodacozinhaeeulargoelelámesmoevouviajar...

Ela pega o telefone, começa discar e continua falando :

“...vouviajareelequesedanenãosouempregadadeleeusouaesposaesposaalôfilhaestouteligandoparadizerqueozérobertoquermorrerevaimorrerestouvendoahoraquevouchegaremcasaeencontarelemortonochãodacozinhaagoraqueueacabeidetrocaropisosimaquelepisoclaroquevocêgostoutantolembrapoiséelevaimorrereeuvouviajardequalquerformaestouteavisandoparadepoisnãodizeremqueeusouissoeaquiloelevaimorrerelenãoquertomarremédionãoquersetratarnãoquercaminharcomigonapraiaelevaimorrereeunãovoudeixardeviajarporcausadeleporfalarnissoprecisoligarparaacostureiraevercomoestáomeuvestidodenoitequeuemandeelafazerparaobaileànoitenonavioeleévermelhocomdetalhesemamarelorosalindolindoigualzinhoovesitodaeduardinhaelaestáaí?euquerodarumapalavrinhacomelaafinalelaprecisasaberqueoavôdelavaimorrervaimorrerlánacozinhaqueeutroqueiospioporessesdiashaporqueelefazissocomigomedigaafinalvocêconseguiuaqueleempregoquemestáfalandoorameninaeuestavafalandocomasuamãedizendoqueseuavovaimorrerparedechoraremechameasuamãeentãoestavafalandodovestidovermelhoentãomeninavocêprecisaverquelindoeleémeudeuseuaquiperdendomeutempocomvocêeassimacaboesquecendodeligarparaacostureira...”

Não sei como acabou a história. Lembram-se daquele meu problema com a concentração zen-budista?

Desmaiei e fui retirado da sala, voltando a mim lá na cozinha sob abanos dos colegas, que preocupados teciam comentários sobre minha pressão arterial, taxa de glicose, se teria ou não tomado café antes de sair de casa, se não seria aquele maldito cigarro que eu nunca tirava da boca...

Tudo isso me aconteceu às nove e quinze da manhã e o meu expediente termina às dezessete horas. Então, munidos de uma calculadora, vejam quantas vezes ainda desmaiarei hoje?