Sobre a mesa uma xícara de café quente. Dela, uma fumaça sobe e espalha o seu aroma. Sentado à mesa, Edmundo, desligado, de olhar vago, mexe e remexe a colher na xícara, o sachê de açúcar está intocado, e sobre o pãozinho torrado na chapa começam a pousar moscas.
Mexe, mexe, mexe e o café começa a esfriar.
O bar esvazia, as pessoas vão-se, umas trabalhar, outras passear, outras, quem sabe?
O café já esfriou. Na parede os ponteiros do relógio vão marcar mais uma hora e Edmundo nem se apercebe disso.
- Ontem a noite aconteceu de novo... - Ele murmura. O garçom se aproxima na esperança de dar-lhe a conta e enfim despachá-lo. Mas que nada!
Ele ignora o garçom e continua a girar a colher na xícara de café. O tempo continua a passar indiferente a Edmundo e a aflição do garçom.
Edmundo baixa a cabeça e olha para a calça.
- Ontem aconteceu outra vez, meu Deus, outra vez...
O garçom não se abala a desencostar-se do balcão, olha para o relógio da parede, confere a hora com o seu relógio de pulso e balança a cabeça ao ver o velho falando sozinho e mexendo a colher na xícara.
- Pobre velho, se eu tiver que ficar assim prefiro morrer. - Fala para si mesmo enquanto procura alguma coisa no bolso da calça.
O som da xícara quebrando-se no chão chama-lhe a atenção e ele corre para a mesa do velho que com olhar estático olha para a calça manchada do café que ainda escorre da mesa.
- Ontem à noite urinei nas calças, hoje me sujo de café... Constrangendo o garçom, ele começa a soluçar...
Um comentário:
É Roberto!
É por aí que começa o "HORROR" que a velhice traz.
Beijos
Mirze
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