2011/11/07

HOJE ACORDEI SEDENTO DE SANGUE

Acordei, estranhamente, sedento de sangue.
Fui à cozinha, bebi um copo d’água, que imediatamente cuspi, não consegui engoli-la. Realmente a sede era de sangue. Descobri que sou uma vitima do sentido figurado.
Sedento de sangue, estou com sede de sangue...
Como resolver isso?
O sol nasceu, abri as cortinas preocupado, trêmulo, medroso - e se o sol me queimasse?
Claro que ele não me queimou, afinal não sou um vampiro - daqui vejo meu reflexo no espelho! -, sou só uma pessoa normal que, sabe-se lá por que, hoje acordou sedento de sangue.
O dia prometia ser quente, e na TV anunciava chuva para o fim da tarde.
Troquei-me, e saí a trabalhar ainda sedento de sangue e em jejum, nem mesmo a geléia de goiaba me atraiu....
Ao chegar ao escritório deparo com minha mesa cheia de papéis, espanto-me e fico indignado, pois ao sair ontem ela estava limpa.
Alguém fez serão e deixou o resto para mim!
Estou sedento de sangue quente e espesso e alguém me confunde com um abutre comedor de carniça!
Sento-me à mesa, meço a quantidade de papéis sobre ela, meus dentes rangem e, juro, sinto meus caninos crescerem...
Acordei sedento de sangue e estou começando a gostar disso.
Toca o interfone, e pelo calafrio na espinha, é a Dona Regina, minha chefe, chamando-me à sua sala. Sinto a sede aumentar seguida de um antegozo sobrenatural e uma saciedade pronta a realizar-se.
Levanto-me, olho o reflexo de meu rosto no cromado do grampeador e, sorrindo, percebo que meus caninos cresceram mesmo. Sigo em direção à sala da Dona Regina, faço toc-toc só de sacanagem, pois ela detesta isso, gosta de ser anunciada pela sua estagiária. Abro a porta antes que ela responda, encosto-me no batente e digo:

-Hoje acordei sedento de sangue...

Um comentário:

Unknown disse...

Ótimo texto!

Claro que a D. Regina desmaiou.

Beijos, Roberto!

Mirze