2011/08/05

UMA HISTÓRIA DE PELE

Fim de tarde andando pela praia, o rapaz é parado por um homem mais velho, que suspeitamente lhe diz:

-... então? Gostou dela? Vi de longe que você estava olhando para ela.

- Sim...

- Viu esse corpo, esses cabelos negros?

- Sim..., mas qual seria a cor dos olhos dela?

- A cor dos olhos? Hoje em dia é a cor que o freguês quiser. Verde, azul, castanho, olhos de gato, branco. Aqui o freguês é que manda! Se quiser, ela pode ficar loira, ruiva, cabelos crespos...

- Bom...

- Então?

- Ainda estou pensando...

- Aposto que você fará muito sucesso com seus amigos... Veja só os seios dela. Como diria o Chico, “peitinhos de pitomba”.

- Foi primeira coisa que reparei nela...

- Então?

- Não sei o que vão dizer lá em casa... Minha família é muito católica, e se minha avó me vir com ela é capaz de morrer, meu pai me põe de casa prá fora...

Começa a escurecer na praia. As pessoas que passeiam por ali olham para ele e para o comerciante, deixando-o ainda mais constrangido com a situação.

- E então vamos fazer negócio? – diz jogando as tranças jamaicanas para trás - Outra linda como essa aqui você não encontrará assim por ai, isso posso te garantir...

Ele pede mais uns segundos para pensar, e enquanto olha para ela ali, quieta, muda, quase assustada, imagina ouvi-la sussurrar-lhe: - “Me leve com você”!

- Então, vai levar? Aproveite que o movimento está fraco hoje e te faço um desconto, a moça aqui não arrumou nada e preciso comprar o leitinho das crianças... – ri da própria piada e acende um baseado.

- Não! – Diz entre decidido e já arrependido.

- Então está certo, até mais. – fingindo pouco caso - Tem certeza que não vai levar a garota pra casa? Pra sua cama? Pro seus amigos te invejarem? Veja bem esses olhos verdes, os peitinhos de pitomba, cabelos negros... Tem certeza? Não é todo dia que se encontra uma obra-prima como essa. – diz cobrindo a imagem com a fumaça do baseado.

O rapaz olha para a figura no papel e responde mais para ela que para ele:

- Não, não posso te levar na minha pele, não posso não...

Mais uma vez, na última hora, desistiu daquela tatuagem.

9 comentários:

Unknown disse...

EXCELENTE!

Do início ao fim, um suspense!

Valeu à pena ler.

Beijos

Mirze

solaris disse...

Juro que pensei ser uma boneca inflável kkkk...Adorei!

Folhetim Cultural disse...

Será que ele terá uma terceira chance... Li quando este rapaz teve a primeira chance de fazer a tatuagem pensei tanta coisa, que depois ri de mesmo... este é o poder do Roberto Prado!

Unknown disse...

Hahahaha... muito boa a história. Mexe com a imaginação da gente. Rs

Unknown disse...

Ei, estou fazendo um trabalho de faculdade (TCC) e preciso aplicar uma pesquisa a alguns blogueiros aqui de sp. Topas me ajudar? Aguardo sua resposta guri. Desde já lhe sou grata pela atenção. Rs

VICIADOS EM CAFÉ disse...

Tati conte comigo e com Magno, do Folhetim Cultural, que acho, poderá te ajudar ainda mais que eu.

Folhetim Cultural disse...

Pode deixar é só falar no que podemos ser útil..

Magno Folhetim Cultural

Doux' disse...

Epa!! este moço esta fugindo da tatuagem como eu...

solaris disse...

Não fuja da tatoo..é tudo de bom.