Duas facadas nas costas, não mais que isso, somente duas, duas muito bem dadas, foi fundo até o cabo, até sujei as mãos, enfiei, virei lá dentro das costas e depois enfiei outra vez, como eu disse, só duas facadas e não mais que isso, afinal, duas já mata e mais que isso ele poderia gritar, gritar meu nome e o senhor sabe o que penso sobre gritarem ou mesmo só falarem meu nome, eu morro de vergonha.
Posso ser um bandido, ladrão e até mesmo assassino, mas sou antes de tudo um tímido, tão tímido que se falam meu nome comigo por perto fico vermelho, a cara esquenta, acho que até mesmo os cabelos arrepiam.
Então, por causa dessa minha timidez desenvolvi uma forma rápida de matar o desinfeliz, duas bem dadas nas costas, pegando o pulmão, ou seja lá o nome que dão praquele órgão que sangra feito porco, tuf-tuf, e pronto, tá o corpo estendido no chão.
Não dou nem tempo pro cadáver olhar pra mim, aliás, para o meu próprio bem, já pensou se, imagine só, ele sangrando, tonto, tudo se apagando e de repente ele olha prá mim? Ponha-se no meu lugar, tímido como sou, sou capaz de desmaiar...
Não senhor, sou um cabra muito macho, mas fazer o quê se sou tímido?
Por isso não vou prá guerra, as armas até que são boas, tem bastante potência, dá prá matar um bocado de gente, mas é aí que mora o perigo...
Muita gente em volta de mim, muita gente na minha frente, muita gente atrás, não dava não, não dava não, eu ia morrer ali mesmo, antes de dar o primeiro tiro, nem unzinho...
Pois é por isso doutor, por causa dessa minha maldita timidez, que estou aqui prestando esse depoimento pro senhor com as luzes apagadas, não é por vergonha do que fiz não, não tenho vergonha nem arrependimento, é só por causa desse meu acanhamento mesmo, imagine o doutor que eu não tenho carteira de identidade por causa dos fotógrafos, não há quem me coloque de frente pro sujeito e praquela máquina, veja doutor, nem penteio os cabelos, morro de vergonha de olhar prá minha cara no espelho...
Quando eu ia imaginar que quando gritaram - Severino!- estavam chamando o pedreiro da obra e não eu? Pois quando ouvi meu nome, pelo menos eu pensei que fosse o meu nome, fiquei ali paralisado, suando frio, com o carão vermelho de vergonha, nesse minuto tão curto, foi que me prenderam.
Não sei mais o que faço com tanto acanhamento...
Um comentário:
Toda essa timidez eu até me identifico. Lá pros meus 12 anos que não podia nem olhar pro lado!
Mas como td muda e eu tb mudei -hj tão cara de pau- quem sabe esse pobre coitado não se ajeita um dia!
hahahahha
Adorei!
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