(texto antigo)
…passado o calor da batalha, que batalha me perguntam? Qualquer uma de qualquer guerra, guerras as temos de mãos cheias, então escolham uma, abram um mapa e de olhos fechados estiquem o dedo indicador e pousem sobre ele, com certeza ali há de haver uma guerra.
Corpos espalhados pelos campos, fumaça, o cheiro acre de pólvora, abutres voando em círculo no céu nublado. Sim, nublado o céu fica melhor nesse texto, aliás, vamos colocar um chuvisco fino e um frio chegando junto com o entardecer.
(Ótimo, agora o quadro ficou digno de Brueghel.)
Aproximando um pouco a nossa câmera, veremos entre os mortos uns poucos sobreviventes que gemem, choram e soluçam. Acho bárbaro ver um soldado moribundo chorando e soluçando, seria melhor ainda se um deles tivesse à mão uma foto. Seja lá a foto da mãe, da filha, da namorada, ainda virgem (desculpem a minha licença poética, não resisti a uma namorada virgem!) ou quem sabe a foto do cachorro... (nada mais comovente que a foto do fiel totó penso ouvir um suspira na platéia)
Vemos então que um dos soldados, arrastando-se na lama, não falei antes que havia muita lama? Desculpem, mas há muita lama, uma lamaçal dos infernos (?). Voltemos ao soldado que empastelado de lodo, sujo e com as lágrimas desenhando trilhas de brancura nas faces (essa foi uma pontada no coração, não foi?) segura, abraça e ampara um irmão de armas, tenta incutir-lhe um pouco de esperança na chegada de reforços, na ajuda médica, afinal esperança de que algo suja para tirar-lhe dali.
O soldado mais ferido tenta falar algo, esboçar um sorriso, mas a tosse aguda o impede. (nesse momento quase ouvimos uma música triste tocar)
- (tosse)
Desesperado o amigo, sim nessa hora todos tornam-se amigos e irmão, graceja e diz que tudo isso vai passar e logo-logo estarão rindo disso ele ia ver.
Enfim escurece, a chuva fina engrossa e o frio piora. O primeiro soldado acende um cigarro e o divide com o companheiro que piora a olhos vistos. Ao longe um trovão, sacode a terra, ou seria um tiro de canhão? Assustam-se, o segundo soldado que piora, engasgasse com a fumaça...
Escurece e exaustos, enfim dormem...
O amanhecer os encontra abraçados, trêmulos de frio e cobertos de lama que já começa a secar. O primeiro soldado olha para o céu e em voz alta agradece a Deus por ter sobrevivido a essa noite, ele sorri e chama o companheiro agonizante para uma prece de ação de graças.
(Fosse isso um filme e eu o diretor, nesse momento mandaria a produção soltar uns mil pombos, para aumentar a dramaticidade do momento, mas como não sou, segue a história.)
- Viu? Eu não disse que tudo daria certo? Aqui estamos nós vivinhos, e tenho certeza que logo o socorro chegará. Olhe lá!
Com esforço ele levanta a cabeça do moribundo e vira (penso ouvir um crec?) para o outro lado, onde se avista no horizonte uma fila de soldados chegando.
- Olhe, olhe, olhe, a ajuda está chegando, veja são os nossos homens chegando – diz chorando de emoção incontida.
Arrebatado ele salta e começa a gritar, gritar com toda a força de seus pulmões.
(Lembram-se dos pombos que falei acima? Se eles estivessem nessa história, agora voariam assustados com os gritos)
- Hei, hei, heeeeeeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
(Entra outra uma trilha sonora, de preferência do Ênio Morricone, triste de fazer partir um coração de pedra)
Fim perguntarão vocês?
Um Happy End?
- Não!
(Olhem que beleza seria ter os pombos nessa história, agora que o fim aproxima-se, eles voariam para o horizonte, que lindo seria!)
Mas sigamos...
Ele decepcionado, arrasado, triste, vê o batalhão virar para direita (ou esquerda, tanto faz, o importante é que seguiram para outra direção) deixa-se cair como um pacote abandonado sobre o corpo inerme e já frio do companheiro morto. (Sim ele morreu com o pescoço quebrado)
Sentado sobre o cadáver, ele se entrega, rende-se à sua desgraça. Olha para cima e vê o dia clarear, o solo secar e mais um dia perdido começar.
Sobre sua cabeça os pombos voltam a revoar.
Bruscamente ele ergue-se de sobre a carcaça enlameada e com uma pistola na mão põe-se a disparar contra as pobres e inocentes aves columbinas...
E então do nada surge em fade-in, o...
T H E E N D
4 comentários:
AI! Que suspense. Ainda bem que tem o humor do autor, senão seria horrível Odeio guerras. Mas com esses pombinhos e as cabeças que não sabiam se viram para a esquerda ou direita, e ainda as notas sobre a lágrima caída e a foto do totó ou da namorada virgem.
Demais. Ri e chorei ao mesmo tempo. Essa guerra vai ser um S U C E S S O!
Nunca pensei em dizer isso!
Beijos e parabéns!
Mirze
Olha só...O pior de tudo é ver um soldado quase morto que lembra e chora pela sua namorada AINDA VIRGEM...Essa foi de matar...
Porra gente!!
Isso é ficção, assim eu posso inventar uma namorada ainda veirgem, hahahahahaahahaha
Adoro vocs minha leitoras!
Eu sei, mas poderia o soldado morrer mais feliz ahahahaha...#prontofalei.
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