2011/03/25

"Agamenon Errou"

COLABORAÇÃO DO Sr. ALEXANDRE COSTA


Eu procurava por textos novos, revirava as gavetas do móvel do quarto, procurava na estante da sala por qualquer coisa, um bilhete, um recado, precisava muito de algo novo, já estava cansado de escrever sempre as mesmas coisas. Mas não seria eu que não escrevia há muito tempo, que encontraria nas minhas próprias coisas, algo novo, uma novidade, a intensidade de um belo texto – isso eu já não tinha mais. Lembro-me que Agamenon me advertiu sobre a morte das palavras, como se a desistência delas não fosse da vontade do autor.

Confesso que muitas vezes, dezenas delas, começava um texto baseado em uma palavra ou frase que havia escutado em algum lugar por onde passara, mas nada ultrapassava três ou quatro linhas – eu desistia com muita e apaixonada vontade. Paixão em desistir? Isso existe? Talvez exista em mim!

Continuava pela casa à procura do texto. Eu não sabia que não o tinha, eu tinha certeza de que o encontraria – era simplesmente uma questão de fé e não de fato.

Cansado, me deitei no sofá e tentei lembrar-me de onde havia abandonado algo que eu ainda não tinha – o texto novo!

Se ele estivesse camuflado no teto, escondido nas sombras dos quadros na parede, eu não sei, talvez o encontrasse, ou nunca, mas por um motivo que eu não sabia, eu não desistia de procurar.

Não sei se passei muito tempo assim, porque naquela hora eu não contava o tempo, mas ele me contava, como se eu tivesse um prazo de validade para encontrar o texto, ou escrevê-lo.

Então, não por minha vontade, mas por um espírito que me domina sem intenção e desejo, escrevo esta pequena narrativa e ponho fim ao motivo que me trouxe até aqui.



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