(revisada e levemente ampliada)
Quem me conhece, mesmo que vagamente, sabe que perco o(s) amigo(s) , mas não perco a piada – sim, intuo já uma velhice solitária e amarga, mas fazer o quê? É o preço que pagarei por se o que sou:
- Fiel aos meus princípios, pois ouço e escrevo!, mas sigamos...
Outro dia, bebericando meu santo cafezinho ouço a história de um recém-solteiro de meia-idade, que num domingo desses de pouco sol e sem presa à vista, saiu para se socializar com a ex-família.
Me contava o nabokiviano amigo os detalhes com tal riqueza, que me vejo aqui incapaz de transcrevê-la, furtando-os assim, meus leitores, dos pormenores sórdidos, das cores fortes, da linguagem docemente impudica que tais conversas impõem...
Mas dou-lhes, de forma poética, esse breve e aprazível resumo, vejo-os lá embaixo.
Foi entre as vitrines
Que ele a viu
E sentiu-se visto
olhares cruzaram
promessas no ar
ele
um velho sátiro
ela
uma ninfeta
digna dum Nabokov da melhor safra
ela com a mãe
ele, ex-mulher
manequins testemunhas mudas
cabides cúmplices sem culpa
corredores de lingerie apimentando os desejos
o rubro à sua frente
serão das peças
ou de seus olhos?
ela, de soslaio
ele, a vibrar
o não-dito
o não-feito
o desejo no ar
a Lolita ali
- será que ela ouve o seu latejar?
desejo a lhe sair pelos poros
ele sente que brilha
seus olhos o traem
suas mãos suam
ela vai com a mãe
antes de sumir olha-o
a ponto de fazer seu sangue ferver
mas é tarde demais
ele está velho
ele está perdido
ele está, hoje, com a ex-mulher do lado...
por que hoje?
por que hoje?
sofre a dor da perda
sofre a dor de saber nunca mais outra chance
sofre a dor das escolhas desse domingo...
Mas como sabemos e os jovens logo saberão, as dores de uns são as doçuras de outros.
Passem bem!
Um comentário:
Perfeito**
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