2011/01/31

CATEDRAL


Entro em uma igreja velha - e não antiga - no centro da cidade estilo Gótico tardio, comprida, longilínea, com torres em forma de pontas agudíssimas, quase um cenário para um filme de terror. Atravesso seu umbral e para meu desgosto, por obra de algum modernista inimigo da fé de meus amigos católicos, a vejo totalmente pintada de branco, suas longas paredes, seu teto abobadado, de um branco que quase ofusca aquele que, desavisado e despreparado, ali entra.

Naquele mesmo momento deu-me vontade de sair correndo. Meu espanto só fez aumentar quando percebi que os vitrais também haviam sido substituídos por vidros brancos e foscos, fazendo-me afundar numa brancura opressiva e agonizante. Nenhuma imagem se via lá dentro.

Onde fui à procura de paz, uma solução, um refúgio, só encontrei desespero...

Explico-vos.

Numa igreja, principalmente uma Gótica, tardia ou não, procuro a grandeza, seja de um Deus, um Universo sem fim, tão grande (os dois) que quero ver na minha pequenez uma porta que sirva de saída de minhas angústias, desespero...

De que me adianta achar-me igual a Deus ou o Universo, se não consigo resolver meros problemas cotidianos?

Afinal procuro por algo mais que possa me auxiliar nessa hora de necessidade.

Mas, mesmo desiludido e frustrado, resolvi ficar por ali mais uns instantes...

Perdi totalmente a vontade (ou a coragem?) de orar e clamar por ajuda, e me deixei vagar à procura de entendimento para aquilo. Quem teria a idéia de pintar a igreja de branco por dentro, não deixando um canto sequer no escuro?

Não havia mais o lugar para as velas (há em mim um clamor por fogos, tochas e velas, eco talvez da Idade Média...), e sim caixinhas com pequenas lâmpadas que são acesas com o “simples” depositar de moedinhas! Teria o autor de tal concepção a idéia de que em cantos escuros escondem-se demônios? Ou será que ele acha-se em “pé de igualdade” com o Criador e o Universo? Passou-lhe pela cabeça que nessa “obra”(?) ele estaria “olhando nos olhos dos “Gigantes” como um igual?

Respeito a arrogância, mas nunca o mal gosto!

Deixando essas divagações de lado, levanto-me para ir embora, mais triste do que quando entrei...

Procurei ali uma luz no “céu”, mas tudo o que vi foi um prédio, pintado de branco, me afastando da ilusão de ter “saído” do mundo real, da dureza do dia-a-dia, ali estava eu em mais um edifício ordinário, como se fosse um prédio de apartamentos, um conjunto de escritórios, ou seja, mais um prédio comercial como outro qualquer...

Quando entrei ali queria sentir-me pequeno, minúsculo, a ponto de achar que meus problemas eram ainda menores que eu diante de toda a criação, mas vi que eu era do mesmo tamanho, talvez só pouca coisa maior que o verme que concebeu a idéia de fazer aquilo ali dentro...

Não pensem que sou religioso, não sou, sou um ateu espiritualizado (ironia de minha parte?) que às vezes procura abrigo e que dessa vez não encontrou.

Uma vez lá fora, percebi que o sol era menos ofuscante que a pintura da igreja...

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