Mais um texto velho...
23:35h, quarta tulipa de chope escuro, duas caipirinhas de abre-alas, porção de fritas com queijo já na saudade, e de repente o Magrão pergunta assim à queima-roupa:
- Tem jogo amanhã lá no estádio, vamos?
O miserável sabe duas coisas importantes sobre mim:
1. Detesto esportes em geral, e futebol em particular, e
2. Topo qualquer coisa depois de três chopes.
- Então combinado, às seis horas da tarde todo mundo em casa e vamos juntos pro estádio.
Ok! respondemos juntos e pedimos outra rodada de chope. Lá pela uma e pouco da madrugada fomos embora. Acompanhei o Magrão até perto de casa, ele seguiu em frente e eu fui para o meu apartamento.
Subi as escadas lenta e tropegamente, tirei as roupas e o sapato, quando as chaves caíram no chão foi que reparei que havia trocado a ordem das coisas, me dei conta que estava nu no corredor do prédio, e quase arrombando a porta de meu apartamento, entrei. Tomei banho e me enxuguei no lençol da cama...
Acordei sábado, passava do meio-dia, com ressaca. Dirigi-me à cozinha e fiquei a meditar profundamente - na verdade acho que dormi mesmo em pé - no que faria, se café ou almoço, resolvi abrir um pacote de amendoim. Não me fez nada bem.
Voltei ao aconchego da cama.
Toca o telefone, era o Magrão confirmando o futebol de hoje à noite.
- Mas que futebol? E eu lá sou homem de futebol? Quando que em sã consciência... – foi ai que me lembrei, malditos chopes...
- Como fazemos? Você passa aqui ou vou ai? – Pergunto bancando o desentendido.
- Você passa que os lastros vão vir também, tomamos uns aperitivos aqui em casa e vamos calibrados pro estádio.
Importante explicar o que são os lastros. São dois sujeitos dos mais sem importância que andam conosco somente para dar lastro ao carro, sem mais explicações.
Desliguei o telefone, virei de lado e voltei a dormir. Não sei se sonhei, mas acho que os amendoins fizeram uma festa no meu estômago...
Acordei faltando pouco para as cinco da tarde, temei banho, e sai me exugando pelo apartamento.Vesti-me, desci para a rua, cumprimentei o porteiro do prédio que me respondeu com cara de desaprovação...
Sei lá o que passa na cabeça desse sujeito. Vou até a calçada e grito:
- Roubaram meu carro! – Faço o espetáculo padrão dos roubados: grito, arranco os cabelos, xingo e por fim vou culpar o porteiro. Por isso ele me olhou daquele jeito, é cúmplice, é cúmplice...
Antes que dissesse qualquer coisa ele me perguntou:
- O senhor esqueceu o carro no bar outra vez?
Meu Deus esqueci o carro no bar outra vez! A bebida ainda me fará andar de ônibus um dia!
Telefono pro Magrão:
- Vou demorar prá chegar ai, vou passar no bar e pegar o carro.
Sigo a pé até o bar, chegando lá vejo Ivan limpando as mesas e esvaziando os cinzeiros. Quando me vê, abana os braços à guisa de cumprimento e nem bem me aproximo ele grita:
- Esqueceu o carro outra vez hein?
Todos os outros garçons olham para mim e para uma fileira de carros de luxo ali estacionados. Cabisbaixo entro no meu fusca azul e crio um anticlímax no bar.
Sigo para a casa do Magrão, os lastros já estão lá. Buzino e logo os três descem cantando alguma coisa que lembra hino religioso e grito de guerra. Trazem quatro buzinas, quatro bandeiras coloridas, quatro chapéus ridículos
- Onde eu me meti?
- O que foi que você disse? – pergunta o Magrão sacudindo uma bandeira na janela do carro. Nada respondo.
Sigo o engarrafamento até o estádio, e para a minha alegria uma fila imensa já se apresenta na rua.
- Desçam aqui que vou arrumar estacionamento, nos encontramos lá dentro.
O Magrão desce e logo é seguido pelos lastros.
Espero para vê-los entrarem na fila e vou-me embora. Minutos depois entro no bar;
- Ivan, dois chopes! Cumpri minha palavra, combinei de ir ao estádio, e fui “até o estádio”. O Magrão tem muito ainda o que aprender quando o assunto é "me levar ao futebol". – sorrindo esvazio a tulipa.
Em tempo:
- Ivan te lembra alguma coisa Vadinho- Memorioso?
4 comentários:
com certeza, Ivan o terrivel do horrível bar do português
Lastros não sabia que existiam. Ranzinza é cultura. Caraco que coisa futebol com os amigos não tem preço. risos
Sou uma enciclopédia de inutilidades...
Mágico!
EU FARIA O MESMO! AH AH AH!
ÓTIMO TEXTO!
Beijos
Mirze
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