CADA MISERÁVEL COM SUA MOEDA
Como
essa miserável é baratinha, basta uma florzinha, um aceno, uma promessa, um
“amanhã te ligo” e seu dia está ganho.
O sorriso bobo enfeita-lhe a cara
parva.
Tão bonitinha, mas...
Dez horas da noite sábado, num subúrbio um telefone toca.
- Alô.
- Vou passar ai. Te arruma que vou te pegar. É hoje o dia e nem tente me enrolar.
- Quem fala? – pergunta com voz histriônica e irritante.
- Ora, não banque a burra, sou eu. Estava esperando outra pessoa?
- Ah! É você... – desdenha.
- Claro que sou, estava esperando quem?
- Estava não, estou! O Ginno vem me pegar pra sair.
- Está me traindo, sua vadia?
- Traindo? Não tenho nada com você... O Ginno é meu namorado – ênfase no meu – Você não é nada prá mim.
- Não sou nem nunca serei, já te falei isso. Contigo só quero uma coisa, e você sabe o que é – ri com escárnio.
- Não me procure mais, o Ginno já está aqui na porta.
- De carro?
- Não...
- De moto?
-Você sabe que o Ginno é um duro... - responde entre magoada e arrependida da resposta.
- Você não presta nem para escolher namorado mesmo. Não presta.
- Então por que você corre atrás de mim?
- Justamente por isso, você não presta. Não presta nadinha...
- Você me magoa falando assim... – finge que chora.
- Engole esse choro falso, nem chorar você sabe. Mentirosa...
- Mentirosa, eu ?
- Sim. Se o Ginno tivesse chegado você já teria desligado o telefone...
- Vou desligar.
- Antes me responda.
- O quê?
- Vocês vão a um motel ou pra casa dele...?
- ... (silêncio)
- Safada.
- Prá casa dele...
- O duro não tem grana prum motelzinho?
- Não é isso, a casa dele é muito melhor que um motel qualquer, lá tem uma escadaria...
- Uma o quê? Escadaria?
- ... (silêncio) - Você não presta mesmo. A que horas vai voltar de lá?
- Uma ou duas horas da manhã, afinal tenho que ver meus filhos voltarem da rua...
- Você não presta mesmo, não presta mesmo!
- Você vai passar aqui quando eu voltar?
- Não posso, amanhã tenho que fazer a feira com a minha mulher. Se quiser me ver é agora, despacha o Ginno, diz que está com dor de barriga, diz que desceu antes da hora, diz que teu ex-marido quer discutir a pensão das crianças, minta, afinal mentir é muito natural prá você, ande, invente alguma coisa. Já estou saindo.
- Olha..., vou pensar em alguma coisa...
- É o seguinte, vou desligar e te chamo em cinco minutos, cinco minutos com uma resposta.
Dez minutos depois o telefone toca.
-Alô
- E então?
- Despachei o Ginno...
- Que pena, resolvi não te ver mais. Olhe, estive pensando, não me procure nunca mais, ok, nunca mais, me esqueça, apague meu celular, não me procure...
-... (soluços, ela chora baixinho)
- Alô? Você já cortou os pulsos?
- Não... Você me fez desmarcar com o Ginno prá quê? E agora quem vai arrumar a fiação da sala? As goteiras do teto...
- Te vira. Não é assim que você sempre faz? Te vira, liga pro Ginno, diz que mudou de idéia...
- Ainda te mato um dia! Bate o telefone.
Passada meia-hora...
Telefone toca
- Ainda está ai vadia?
- Mudou de idéia vem me buscar? Ainda estou arrumada – ri – Aproveita que o perfume ainda não venceu.
- Vou ai sim, mas nada de sairmos, pode ir tirando a roupa, meia hora estou ai. Mande seus filhos prá casa do pai. Solta o cachorro na rua que hoje não estou pra latidos.
- Tá bom. Vai querer jantar quando chegar?
- Você não vale nada mesmo...
- Essa é a tua sorte! – ri aliviada, pois pensa que a noite está ganha.
- Meia hora, esteja pronta, nada de me pressionar prá largar a família, e trate de chamar o Ginno para arrumar essa goteira, pois se chover durante a noite me levanto e vou embora.
Ele não apareceu, o cachorro fugiu, durante toda a noite choveu.
Pela manhã...
- Ginno...? Sou eu...
3 comentários:
Isso é trágico, um absurdo, mas ao mesmo tempo cômico. Em pensar que esta obra é baseada em fatos reais... Aguardemos os próximos capítulos..
Até mais
=**
E virá, fique sossegada.
NOSSA!
Ainda existe gente assim? Que pena!
Esse mundo é mesmo nojento!
Beijos
Mirze
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