I
Frederick von Fitzgerald entra em casa, cinqüenta e dois avos de segundos depois sua mulher Mary Ann Helen Fitzgerald pergunta o que ele quer para o jantar.
Frederick von Fitzgerald lentamente começa a colocar sua pasta na poltrona, e antes que ele soltasse a alça, sua mulher Mary Ann Helen Fitzgerald pergunta-lhe pela segunda vez o que ele deseja para o jantar. Frederick von Fitzgerald enfim deixa a pasta sobre a poltrona, olha para a mulher que, tomando fôlego outra vez, pergunta-lhe sobre o que ele gostaria de comer no jantar.
Frederick von Fitzgerald começa a tirar o nó da gravata e dirige-se à sua esposa Mary Ann Helen Fitzgerald. Enquanto ouve-lhe a voz perguntando que deseja para o jantar.
Mary Ann Helen Fitzgerald mal consegue perguntar pela quinta vez o que Frederick von Fitzgerald deseja jantar quando a gravata envolve-lhe o pescoço.
Mary Ann Helen Fitzgerald balbucia algo, Frederick von Fitzgerald não entende, mas intui que ela ainda quer saber o que ele quer jantar essa noite.
II
Frederick von Fitzgerald senta-se à cabeceira da mesa, como faz a vinte sete anos, dez meses, quatro semanas e cinco dias, ele numa ponta e Mary Ann Helen Fitzgerald na outra.
Mary Ann Helen Fitzgerald sorri-lhe e pergunta como foi seu dia, Frederick von Fitzgerald suspira, mastiga o hambúrguer com fritas que Mary Ann Helen Fitzgerald serve-lhe a vinte sete anos, dez meses, quatro semanas e cinco dias.
Frederick von Fitzgerald limpa o sangue de Mary Ann Helen Fitzgerald no guardanapo, joga o hambúrguer e as fritas no lixo, liga o gás, acende uma vela e sai para fumar.
- Normal – responde Frederick von Fitzgerald mastigando sem vontade o hambúrguer e as fritas, agora frias e engorduradas.
- Nada de anormal no escritório hoje? – Pergunta Mary Ann Helen Fitzgerald, enquanto mastiga prazerosamente seu hambúrguer de tofú – ela não come fritas, muita gordura poliinsaturada!
- Nada de anormal, nada! - Grita Frederick von Fitzgerald enquanto coloca a cabeça de Mary Ann Helen Fitzgerald no forno e liga o gás, e põe para tocar um CD de Cauby Peixoto - Frederick von Fitzgerald odeia Cauby Peixoto e Mary Ann Helen Fitzgerald.
- Cafézinho? – Oferece Mary Ann Helen Fitzgerald recolhendo as louças e os talheres do jantar.
- Não! Responde Frederick von Fitzgerald, cortando os pulsos.
III
Na sala de estar em frente à TV, Frederick von Fitzgerald tentar se inteirar das notícias do dia, esforçando-se para não ouvir a voz de Mary Ann Helen Fitzgerald que insiste em contar como seu dia foi ditoso e emocionante, contando com riqueza de detalhes as compras no supermercado, a conversa com as amigas, o trabalho que deu estender o edredom no varal, sobre a lâmpada da cozinha que queimou, e que ela (Mary Ann Helen Fitzgerald) quase caiu de cima da mesa...
Na TV o repórter mostrava um corpo estirado no chão da cozinha de uma casa de classe média. Frederick von Fitzgerald sorriu ao reconhecer ali o cadáver de Mary Ann Helen Fitzgerald.
- Veja Mary Ann, você morreu! - Gritou numa incontida alegria Frederick von Fitzgerald.
- Não seja bobo Frederick, eu estou viva aqui na cozinha lavando a louça...
Frederick von Fitzgerald, engoliu a alegria junto com o café sem açúcar, e chateado mudou de canal.
IV
- Boa noite Frederick, até amanhã. – Sussurrou-lhe Mary Ann Helen Fitzgerald.
- Não se eu puder evitar. – Rosnou-lhe Frederick von Fitzgerald já quase dormindo e sonhando com o crime perfeito.
Um comentário:
SINISTRO!
Muito estranho que isto não seja de Hitchcock ou Edgar Allan Poe.
Pensar coisas boas ajuda!
Beijos
Mirze
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