2019/01/30

MAIS UMA NESTA REPARTIÇÃO



Comecei minha vida etílica bebendo Conhaque Napoleon Brandy Xo
Hoje acabo com ela num São João da Barra!




Agora voltando do almoço, nada de muito serviço em minha mesa, resolvi tomar um café na cozinha da repartição.
Para meu desespero lá estavam Dorinha e a Conceição - “a eterna quase viúva de alguém”. Dorinha – sempre tão prenhe de tantas boas intenções... - se queixando que a sua mãe que não aceitava as orações que ela lhe fazia para um pronto restabelecimento de uma doença qualquer. (Tão falsa é que a própria mãe não a suporta nem rezando pela sua saúde, prefere ir para o inferno que ao céu pelas orações da filha!). Então, nesse momento a magérrima Conceição- “a eterna quase viúva de alguém” - perpetra essa pérola:
- Haveremos de orar com muita fé e submissão a Deus do jeito que nós fizemos pro Seu Zezinho, que Deus o tenha em bom lugar – e baixava os olhos num misto de rasa pureza...
Lembrei-me de você bom amigo Campos me contando do ocorrido com o (des)dito Zezinho e fiquei num limbo entre cair na gargalhada ou vomitar de tanto nojo dela o peixe degustado no restaurante.
...história escabrosa, ficar em hospitais segurando a mão de moribundos, esperando pelo último suspiro dele e uma pensão vitalícia. Não costumo crer em Deus ou qualquer outro ser superior, mas se há uma entidade assim, ela soube tratar bem essa vampira... Não há mão que ela segure que reverta numa pensão... Dá asco ver aquela cara de Santa Tereza de Calcutá do Pau Oco da Área Continental.
Mais falsa que nota de três reais.
Tudo isso passou em minha mente em menos um décimo de segundo, mas que filme horrível de se ver, mesmo que seja dentro de nossa cabeça, onde não adianta fechar os olhos...
Desisti de tomar café.
Voltei à minha sala – nessa época do ano o sol bate mais forte em minha nuca e gasto uma grana preta em protetor solar...
Do corredor escuto alguém gritando.
Mais uma tarde no paraíso (e olha que prestei concurso para entrar aqui, quiçá eu soubesse...).
É o Dijon (vulgo mostarda), o chefe, que está falando obscenidades escabrosas ao telefone com alguma de suas amantes... Umas velhas decadentes que vivem de explora-lo, aliás, explorar sua máquina de frangos assados (que ele vende fiado a elas cobrando depois em “serviços”, não sei se você me entende...) se me perguntarem não saberia responder quem explora quem nessa história sórdida, suja, engordurada e mal contada...
Lembra-se das minhas borboletas azuis, aquelas daquele caso...?
Devia ter dado fim à minha vida naquele maldito dia...
Escrevo-lhe essas linhas para que seja, ao menos, testemunha de minhas desditas nessa repartição, antes que um dia (um dia...) o pior aconteça.
Mas não respire aliviado ainda...
Ouvindo o “Mostarda”, virei sobre meus calcanhares e tentei voltar à rua para um possível cigarro, quando...
O Barbosinha (140 quilos, 1m80 de altura e 1m50 de barriga) me viu, assustou-se comigo e engasgou-se tentando fazer graça:
- Marx! – tossiu.
(faltou a claque rindo!)
O único alívio cômico nesse hospício é ele.
Respondi-lhe:
- Grande hétero! – só recentemente ele descobriu-se um, mas isso fica para outro dia. – Soube, por via tortas, que você é tão hétero quanto à estagiária do segundo andar, verdade?
- Eu não sou hétero como ela não, sou diferente, eu não tenho as coisas dela, tenho as minhas! Tá pensando o quê de mim? – e foi-se indignado chacoalhando a pança...
Juro, com a mão sobre a bíblia ou qualquer outro livro dito sagrado, que não respondi. Guardei para mim e minhas tripas o que eu pensei. Mas não deixei de remoer:
- Esse entrou por cota de deficiência mental...





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