2017/06/22

CARTA ONDE SURGE UM MISTERIOSO TEXTO

  
Bom dia caríssimo seria muito otimismo achar que essa carta chegou pela manhã em sua casa? Está a lê-a à mesa enquanto sorves uma xícara do divino líquido (cada um com seu divino líquido, o seu preto e o meu verde...)?

Brilha o astro-rei?

Sem nuvens no céu?

Cantam os canários e sabiás? Estão por ai estão os meus sanhaços?

Andorinhas voam loucas e desvairadas à volta de sua casa?

Quero crer que sim!

Resolvi, só por hoje, exercitar meu otimismo.

Juro que queria chegar ao fim do dia assim (por via das dúvidas – sou antes de tudo-um homem prevenido – tenho uma garrafa do verde & divino líquido!), mas o Destino (sim, escrito em caixa alta-mesmo) quis outra coisa.

Acordei com o toc-toc pedras sendo atiradas na janela de meu quarto – sim bom amigo, ainda não me mudei dessa pensão que é um ímã para coisas ruins – desci à rua para ver quem era e encontrei somente um envelope pardo com umas folhas dentro.

Levei-as de pronto ao meu quarto para ler enquanto tomava meu break-fest.  Não sei o que pensar. Será o texto um conto policial, uma carta-desabafo, um aviso, ameaça de morte?

Caríssimo, conto com vosso bom julgamento para melhor entender essa confusão em que me meti.

Antes tivesse seguido em frente com a caçada.

Encaminho-lhe uma cópia, no bilhete preso por um clipe somente um pedido de desculpas por envolver-me nessa suja mesquinharia familiar e pedia-me que apos ler tudo poderia queimar os papeis ou, se achar que tinha futuro como cronista, que lhe deixasse o pacote na porta da igreja no próximo domingo, após a missa das oito.

Veja o risco!

Ter que ir a uma igreja outra vez... Temos que os anjos não me sejam mais simpáticos como já foram um dia. Tenho pavor daquelas gárgulas que vomitam água quando chove... Juro que elas tentam cuspir em mim, juro-lhe!

Bem, segue o texto.

Escreva-me a respeito, quero sua opinião. Queimo ou devolvo? Aviso a polícia? Devo envolver-me mais indo nessa esparrela?

Aguardo:


UM CRIME   
           
Hoje sei e afirmo – sem provas infelizmente – mas sei que houve um crime. Um crime dos mais hediondos.
Motivo?
O de sempre, dinheiro.
Matar os pais por dinheiro, por uma herança...
O caso passou despercebido, até hoje ninguém se deu conta dele, eu mesmo levei anos para perceber.
Não fosse meu eterno mau-humor, de viver sendo um  eterno macambúzio, sem falar com quase ninguém, perdido e afundado em elucubrações, esse crime teria sido o crime perfeito. Mas crime perfeito não existe. Ele pode nunca ser descoberto, pode nunca ser feito justiça, mas perfeito? Não, não há e farei de tudo para provar!
Morro tentando (ou serei morto por aqueles canalhas!), se for esse o preço da Justiça! Afinal, graças a eles, nada tenho a perder.
Sou perigoso. Eu penso, eu vejo, observo, eu reconheço os padrões, eu sinto o fedor do mau-caratismo. Eu olho, digo, olhava nos olhos deles, eu via a alma imunda e negra de cada um dele, filhos de Lilith!
Malditos corruptores!
Viverão a eternidade no quaro círculo do inferno! Por esses miseráveis abro mão de minha fé na Apocatástase!
Vampiros!
Miseráveis, corromperam até a minha fé...

Como devo entender isso?

P.S. Enquanto relia a carta abri a garrafa e estou perto de achar que isso é muito mais que um conto. Atente que não há um fim, mas sim uma parada brusca...

Preocupo-me se haverá uma continuação. Se não houver, será porque a dita família o matou? O corromperam afinal todos tem seu preço?


P.S. Estou começando a pegar certa antipatia por reticência!


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