2010/09/24

OUTRO CAPÍTULO

Depois de ser imortal por mais de mil anos, morri. Morri em paz, ok a flechada até que doeu um pouco, mas morri.

Ou assim pensei.

De repente, não mais que de repente, apareço do nada, no alto de uma montanha de frente para o mar. Céu azul, uma ou outra nuvem no céu, no chão minha velha e conhecida sombra.

O que estou fazendo aqui? – me pergunto, ainda meio boba e atordoada, não sei por quanto tempo estive morta, mas ainda me sentia cansada...

Olho à minha volta – tentando me localizar, afinal voltar da morte é meio desnorteante.

Logo aparece um vulto, que se transforma num homem, ele vem sujo, suado, enlameado, cabelos desgrenhados, traz na cintura uma espada – ok, ok,ok, pela espada percebo que não fiquei muito tempo morta, o que explica meu cansaço - ele vem em minha direção – Sobrou prá mim! – pensei olhando para minhas unhas.

Viro de costas para ele e volto a encarar o mar.

Ouço seus passos no chão de areia e cascalhos, ele aproxima-se, seus braços fortes agarram minha cintura, ele fede, fede muito, ele levanta-me do chão, e me beija.

- Quando vou fazer parte de uma história decente? – Lógico, pela cara de parvo, ele não entendeu que a pergunta era retórica e dirigida a outra pessoa. – Meu destino será sempre esse? Tentei fugir de seus braços, mas em vão, pois sua força era avassaladora e esse corpo frágil.

Olho para os céus e me pergunto por que isso me acontece? – Logicamente a resposta não vem, e vez disso gaivotas gritando passam voando por nós.

Carregada às suas costas descemos em direção à praia, ele nada diz, por minha vez, grito, arranho-lhe as costas, me descabelo – pelo menos dessa vez meus cabelos são naturalmente cacheados! – mas nada que faço chama-lhe a atenção, e pressinto que deveria ter permanecido morta.

Pelos trirremes em alto-mar me parece que ainda faço parte da mitologia grega...

O quê esse autor tem contra mim, o quê.

Não sei quanto tempo estive desacordada, mas agora me vejo numa tenda branca, cercada de presentes, pulseira e diademas de ouro, ânforas de vinhos, sendo que uma boa meia-dúzia estava vazia – o que explica essa dor de cabeça dos Hades.

Onde me meteram dessa vez, onde?

O que me espera o futuro?

Ser mãe? Ter cólicas? Ficar viúva cedo? Virar refrão de “Mulheres de Atenas”?

Quando essa história – comigo – irá acabar?

Lá fora começa a ventar, as velas dos barcos inflam, logo meu herói virá buscar.

O que me espera no próximo capítulo?

5 comentários:

MR. HEAVY disse...

vim agradecer e retribuir a visita... gostei do seu blog

VICIADOS EM CAFÉ disse...

Volte aqui mais vezes.

Silvio Barreto de Almeida Castro disse...

Um conhecido fez duas filhas numa cidadã muito estranha. Perguntei para um camarada:

- Como o cidadão conseguiu fazer não apenas uma, mas duas?

Meu camarada respondeu-me com larga sabedoria:

- Sei lá. Ou é tarado, ou pobre, ou míope ou gosta de deitar com homem.

Milu disse...

Vc sumiu e eu também: estava com problemas de saúde.Agora estou de volta. Feliz de te reencontrar por aqui.
Milu

VICIADOS EM CAFÉ disse...

OI MILÚ, É MUITO ESTAR DE VOLTA.